Estudo testa resposta à covid-19 reduzindo ação de citocinas - Summit Saúde

Estudo testa resposta à covid-19 reduzindo ação de citocinas

14 de junho de 2020 5 mins. de leitura

Pesquisadores acreditam que evitar “tempestade de citocinas” pode amenizar sintomas e melhorar resposta ao novo coronavírus

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Um estudo em desenvolvimento pelo Instituto Médico Howard Hughes (HHMI), nos Estados Unidos, pode trazer boas notícias para o combate ao novo coronavírus. Os pesquisadores estão investigando a viabilidade de utilizar determinados fármacos para auxiliar o trabalho do sistema imunológico.

A proposta da pesquisa é encontrar alternativas para atenuar as respostas imunológicas de pacientes que costumam apresentar uma superprodução de citocinas. Em casos de covid-19, os efeitos dessa descompensação podem ser ainda mais graves que a própria doença diante de uma resposta imunológica moderada. Febre alta persistente e dificuldade respiratória grave são alguns dos possíveis sintomas causados por uma resposta excessiva do sistema de defesa do corpo.

Tempestade de citocinas

Resposta exacerbada do sistema imunológico pode produzir sintomas mais nocivos que a própria doença, se combatida com defesas comuns. (Fonte: Shutterstock)

Os cientistas chamam essa reação imunológica desproporcional de “tempestade de citocinas”. O nome não é exagero: diante de ameaças externas, a exemplo do novo coronavírus, os macrófagos (células de defesa) liberam proteínas chamadas citocinas, que “avisam” que há um agente externo perigoso.

Em reação a isso, mais macrófagos são atraídos e também liberam citocinas. Esse ciclo, somado a outros agentes de defesa, como as catecolaminas, causam uma bola de neve imunológica.

Em situações comuns, essa resposta é autorregulada: os macrófagos organizam a resposta de forma compatível com o nível de ameaça apresentada pelo agente externo. Mas, segundo os cientistas, o sistema de defesa pode apresentar uma resposta descontrolada e de difícil reversão, acarretando inflamações severas.

Ainda em teste, os fármacos auxiliaram nessa regulação. Chamados de bloqueadores alfa, os medicamentos seriam capazes de interromper o ciclo de inflamação antes que a bola de neve alcance proporções irreversíveis.

Pesquisa

Os resultados dos estudos em ratos ainda são preliminares, mas os primeiros testes foram positivos; consequentemente, os pesquisadores optaram por iniciar a pesquisa clínica com humanos. Em camundongos com infecção bacteriana, o bloqueador alfa diminuiu a taxa de citocinas e as mortes, além de não prejudicar outros aspectos da resposta imunológica.

Por isso, no momento o HHMI está recrutando infectados com covid-19 entre 45 e 85 anos que não demandam ventilação artificial e cuidados médicos intensivos — ou seja, cujos sistemas imunológicos não estão com a “bola de neve” em curso acelerado.

No teste, os pacientes tomaram doses crescentes de um bloqueador alfa e, em seguida, os pesquisadores avaliaram se as pessoas que receberam esse tratamento tiveram uma taxa de admissão na UTI ou uso de ventilador mais baixa do que os pacientes que receberam o tratamento padrão. Para isso, cada paciente será monitorado por dois meses.

Caso as respostas continuem a ser positivas nas etapas seguintes da pesquisa, pode-se incluir esses fármacos no protocolo de combate ao novo coronavírus. O mesmo pode ocorrer com outras patologias em que os bloqueadores alfa também estejam em teste, como câncer e doenças autoimunes. Esses medicamentos são rotineiramente prescritos para pressão alta e doenças da próstata, mas podem também ser aliados importantes no controle da sinalização de perigo do sistema imunológico.

Prevenção secundária

Expectativa é de que bloqueadores alfa sejam capazes de amenizar sintomas, reduzir mortes e diminuir demanda por cuidado médico intensivo. (Fonte: Shutterstock)

Em qualquer uma das patologias listadas, a redução de mortes e a possibilidade de combater a doença com maior qualidade de vida para o paciente são possíveis ganhos a serem observados no decorrer das pesquisas. Mas, em se tratando de uma pandemia, isso tem uma importância ainda maior.

Como ainda não há uma vacina que permita uma prevenção em massa da covid-19, a prevenção secundária é uma saída importante para os pacientes e a saúde pública. O serviço epidemiológico de municípios, estados e União estão em constante monitoramento da taxa de ocupação das UTIs. Em algumas regiões, como em Manaus e algumas cidades italianas, a falência do sistema de cuidados intensivos fez com que muitos casos terminassem em óbito por falta de estrutura de atendimento.

Por isso, segundo os cientistas, ainda que a vacinação seja a melhor ferramenta no combate à covid-19, medicamentos como os testados nessa pesquisa podem ser fundamentais na redução da demanda por cuidado intensivo e na sobrevida de pacientes graves, cujos sintomas podem ser monitorados em ambientes comuns, até mesmo em domicílio.

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Fontes: HHMI e Science Daily.

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