Evolução da espécie humana pode estar relacionada ao câncer

7 de janeiro de 2021 4 mins. de leitura
Uma proteína chamada SIGLEC12 pode ser responsável pelo desenvolvimento de câncer em pessoas saudáveis

Somente no Brasil, mais de 309 mil homens e 316 mil mulheres desenvolveram novos casos de câncer em 2020, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA).

Devido à gravidade da doença que acomete inúmeras pessoas ao redor do mundo, pesquisadores da Escola de Medicina de San Diego e do Moores Cancer Center, ambos na Califórnia, descobriram que uma mutação genética evolutiva que só ocorre em humanos pode ser uma das culpadas pelo desenvolvimento de carcinomas desenvolvidos rapidamente.

Publicada na revista científica FASEB BioAdvances no dia 8 de dezembro de 2020, a pesquisa mostra uma ligação importante entre o desenvolvimento dos carcinomas e a proteína SIGLEC12. Esta é produzida como parte do sistema imunológico pelo gene de mesmo nome.

Mutação genética

Uma mutação genética na proteína SIGLEC12, natural à espécie, vem ocorrendo há quase duas décadas, isso fez perder a sua capacidade de distinguir o que é uma célula saudável de uma invasora, como um tumor. Com essa perda, o organismo parou de produzir o gene SIGLEC12. 

O professor Ajit Varki, da Escola de Medicina de San Diego e do Moores Cancer Center, afirmou: “Esse gene não desapareceu completamente da população […] parece que essa forma disfuncional da proteína SIGLEC12 se tornou nociva e agora é um risco para as poucas pessoas que ainda a produzem”.

Estima-se que dois terços da população mundial não produzem mais o gene SIGLEC12 e sua proteína. No entanto, ao analisar amostras de tecido normal e canceroso, os pesquisadores descobriram que cerca de 30% das pessoas que ainda produzem as proteínas SIGLEC12 correm o dobro de risco para desenvolver câncer ao longo da vida em comparação àquelas que não a produzem.

Célula invasora no corpo humano. (Fonte: Shutterstock)
Célula invasora no corpo humano. (Fonte: Shutterstock)

A evolução do câncer colorretal

Varki e sua equipe analisaram uma população de pacientes com câncer colorretal em estágio avançado e descobriram que mais de 80% tinham a forma funcional do gene SIGLEC12 e que esses pacientes tiveram resultado pior do que os 20% restantes.

Segundo Varki, os resultados sugerem que as poucas pessoas que ainda produzem esse gene correm um risco muito maior de terem um carcinoma avançado.

Testes em camundongos

Para não ficar somente no campo observacional, os pesquisadores da Universidade de San Diego introduziram em camundongos células tumorais projetadas para produzir SIGLEC12. O resultado mostrou que os cânceres cresceram muito mais rápidos e ativaram vias biológicas conhecidas por estarem envolvidas em carcinomas avançados. Já as células tumorais usadas para controle, sem a proteína Siglec-12, mantiveram um desenvolvimento normal.

Para buscar respostas, a equipe de Varki desenvolveu um teste de urina capaz de detectar a presença da proteína no indivíduo e, então, ele explicou: “também poderíamos ser capazes de usar anticorpos contra SIGLEC12 para administrar seletivamente quimioterapias às células tumorais que carregam a proteína disfuncional, sem prejudicar as células não cancerosas”.

Portanto, a solução seria dar ao organismo um contraveneno para evitar a evolução do carcinoma nos pacientes que o produzem.

Células tumorais foram aplicadas em camundongos para teste. (Fonte: Shutterstock)
Células tumorais foram aplicadas em camundongos para teste. (Fonte: Shutterstock)

O que é carcinoma?

O corpo humano é formado por quatro tecidos:

  • conjuntivo;
  • nervoso;
  • muscular;
  • epitelial.

Quando uma célula epitelial sofre uma transformação maligna, tem-se um carcinoma. Como cada indivíduo pode desenvolver isso em locais diferentes do organismo, o tratamento e o prognóstico também são diferentes. Quando ocorre no pâncreas ou no pulmão, por exemplo, o carcinoma geralmente é agressivo, diferente da próstata e da pele, onde a evolução é mais lenta.

Por isso, as descobertas ocorridas na Universidade de San Diego são vistas como tão importantes, pois podem auxiliar a definir novas estratégias de combate aos carcinomas.

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Fonte: Science Daily e MD Saúde.

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