Testes iniciais em células infectadas demonstram eficácia de 94%; governo espera ter resultados finais em maio
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Em entrevista coletiva realizada em 14 de abril, o Ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, anunciou que pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), encontraram um medicamento que reduz a carga viral de células infectadas pelo novo coronavírus em até 94%. “Há uma grande probabilidade de que esse negócio funcione, e funcione bem”, disse.
O nome da substância não será revelado até que os testes sejam finalizados, por questão de segurança, mas Pontes afirmou que o remédio tem baixo custo e já está amplamente disponível em farmácias brasileiras. Outro ponto positivo do medicamento estudado pelos cientistas brasileiros é que ele não tem efeitos colaterais graves, sendo indicado inclusive para uso pediátrico.
Como dito, os testes ainda estão em andamento, mas o governo espera que o tratamento já esteja disponível para o público a partir de maio. “É um momento muito especial. No máximo na metade de maio teremos uma solução de tratamento”, afirmou Pontes. O ministro salientou que o recurso está sendo desenvolvido com “todo o rigor científico” e que a ciência é a “única arma” capaz de combater o novo coronavírus, causa da pandemia.
De acordo com informações divulgadas pelo Estadão, os testes estão sendo conduzidos por uma equipe de 40 pesquisadores do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), parte do CNPEM. Eles utilizaram uma estratégia chamada reposicionamento de fármacos, analisando a eficácia, contra o novo coronavírus, de medicamentos já utilizados para tratar outras doenças.
Em uma primeira etapa de análises feitas por computador, cerca de 2 mil remédios foram avaliados para encontrar substâncias promissoras. Foram identificados seis fármacos, que foram aplicados a células infectadas com o novo coronavírus: dois deles conseguiram diminuir a replicação do vírus e um reduziu a carga viral em 94%.
A próxima etapa é aplicar os fármacos em pacientes com covid-19. Os testes clínicos serão realizados em cinco hospitais no Rio de Janeiro (RJ), um em São Paulo (SP) e um em Brasília (DF). Conforme demanda a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), nem o paciente nem o médico saberão qual é o remédio testado. O ministro afirmou, na coletiva, que ele mesmo não sabe: “fiz questão de não saber”. Além disso, os pacientes voluntários vão assinar um termo de que estão cientes do caráter experimental do tratamento.
Nos hospitais, será decidido de forma aleatória quais participantes receberão o medicamento em avaliação e quais receberão um placebo, funcionando como grupo de controle. Após a realização de todo o protocolo clínico, “a gente sabe se houve eficiência ou não do medicamento”, explicou Marcelo Morales, secretário de Políticas para Formação e Ações Estratégicas do Ministério da Saúde.
A expectativa do Ministério é finalizar os testes e disponibilizar o tratamento para o público até maio. Durante a coletiva, Pontes demonstrou animação com as possibilidades. O ministro também anunciou a construção de equipamentos que possam testar suspeitas de infecção pelo novo coronavírus em apenas um minuto. Trata-se do acelerador de partículas Sirius, que promete ser um dos mais avançados equipamentos do tipo em todo o mundo.
Por meio de inteligência artificial e emissões de luz, a máquina analisa a estrutura e o funcionamento de partículas micro e nanoscópicas — como os vírus. Dessa maneira, é possível identificar o novo coronavírus em amostras de saliva sem usar reagentes, de forma mais rápida. De acordo com a BBC News Brasil, os cientistas brasileiros também pretendem buscar outros medicamentos que possam compor um coquetel, aumentando a eficácia do tratamento como um todo.
A cloroquina — utilizada para tratar doenças como a malária e defendida de forma fervorosa por autoridades como Jair Bolsonaro e Donald Trump — chegou a ser utilizada como referência, mas não está entre os fármacos testados pela equipe.
Com esses esforços, a ideia é que as pessoas possam receber o diagnóstico de covid-19 e comprar um remédio na farmácia em breve, segundo Pontes.
Fontes: Estadão, BBC.