Novo antibiótico poderá combater resistência antimicrobiana - Summit Saúde

Novo antibiótico poderá combater resistência antimicrobiana

9 de abril de 2020 4 mins. de leitura

Pesquisadores descobriram substâncias com uma abordagem única para atacar bactérias

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A resistência antimicrobiana acontece quando doses incorretas de antibióticos são administradas indevidamente. Recentemente, um novo grupo de antibióticos com uma abordagem única para atacar bactérias foi descoberto e se tornou um candidato clínico promissor na luta contra a resistência antimicrobiana.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a resistência aos antibióticos é uma das maiores ameaças à saúde global, com uma estimativa de 700 mil mortes em todo o mundo a cada ano, incluindo tuberculose, HIV e malária. Estudos apontam que as superbactérias poderão matar 10 milhões de pessoas a cada ano até 2050.

A resistência antimicrobiana aumenta as internações e os custos médicos. Por exemplo, doenças que no passado respondiam a certos antibióticos podem se tornar resistentes e difíceis de conter, como tuberculose, pneumonia, gonorreia e outras infecções. À medida que a resistência antimicrobiana cresce, os surtos podem se tornar inevitáveis — a menos que novos medicamentos sejam descobertos.

Novo grupo de antibióticos

Enfrentar a crise de antibióticos requer a descoberta de compostos com novos mecanismos de ação, capazes de tratar a resistência antimicrobiana. Uma equipe de pesquisadores da Universidade de McMaster, no Canadá, descobriu um grupo de antibióticos que atuam de maneira diferente para eliminar as bactérias. A recém-encontrada corbomicina e a menos conhecida complestatina têm uma forma nunca antes vista de matar bactérias, o que é alcançado ao bloquear a função da parede celular bacteriana.

Os resultados foram publicados na revista Nature em fevereiro. A equipe é liderada pelo professor Gerry Wright, do David Braley Center for Antibiotic Discovery, no Instituto Michael G. DeGroote de Pesquisa de Doenças Infecciosas, em McMaster. O estudo foi financiado pelos Institutos Canadenses de Pesquisa em Saúde e pelo Ontario Research Fund. “Nós levantamos a hipótese de que, se os genes que produziam esses antibióticos fossem diferentes, talvez a maneira como eles matassem as bactérias também fosse diferente”, disse Beth Culp, autora do estudo, candidata a PhD em Bioquímica e Ciências Biomédicas na McMaster.

Beth Culp é uma das autoras envolvidas na descoberta de novos antibióticos. (Fonte: Universidade de McMaster/Reprodução)

Olhando para a árvore genealógica de membros conhecidos da família glicopeptídeos — antibióticos produzidos por bactérias do solo —, os pesquisadores estudaram os genes que não possuem mecanismos de resistência conhecidos, com a ideia de que eles podem ser um antibiótico que demonstra uma maneira diferente de atacar bactérias. O grupo confirmou que a parede bacteriana era o local de ação desses novos antibióticos usando técnicas de imagem celular, em colaboração com Yves Brun e sua equipe da Universidade de Montreal.

Ao se ligar ao peptidoglicano, principal componente da parede celular das bactérias, a corbomicina e a complestatina bloqueiam a ação das autolisinas — hidrolases peptidoglicanas essenciais para a remodelação da parede celular durante o crescimento. A corbomicina e a complestatina têm baixos níveis de desenvolvimento de resistência antimicrobiana e são eficazes na redução da carga bacteriana em camundongos com infecção na pele por Staphylococcus aureus — um grupo de bactérias resistentes a medicamentos que podem causar infecções graves, como envenenamento do sangue e síndrome do choque tóxico.

Staphylococcus aureus são resistentes a antibióticos e podem causar infecções graves. (Fonte: Shutterstock)

Nova abordagem contra bactérias

Antibióticos tradicionais, como a penicilina, atuam impedindo que as bactérias construam a sua parede celular — fonte de sua força de defesa. Ao remover a parede, as bactérias ficam mais vulneráveis e fáceis de matar. “Antibióticos como a penicilina eliminam as bactérias impedindo a construção do muro, mas os antibióticos que encontramos realmente funcionam fazendo o oposto: impedem que o muro seja quebrado, o que é essencial para a célula se dividir”, afirma Culp. Com o bloqueio do rompimento da parede em volta das bactérias, os microrganismos são impedidos de se dividirem e expandirem.

Com a continuação da pesquisa, outros antibióticos com a mesma abordagem ainda podem ser descobertos. A pesquisadora conclui que “essa abordagem pode ser aplicada a outros antibióticos e nos ajuda a descobrir mais medicamentos com diferentes mecanismos de ação. Encontramos um antibiótico completamente novo nesse estudo, mas, desde então, identificamos outros na mesma família que têm esse mesmo novo mecanismo”.

Fontes: Nature, Dailymail, News Medical, McMaster.

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