Novo remédio desacelera doenças causadas por gordura no fígado

19 de julho de 2020 4 mins. de leitura
Primeiros testes clínicos feitos com o medicamento se mostraram positivos ao reduzir a progressão de enfermidades hepáticas gordurosas

Pela primeira vez na história, uma equipe de pesquisadores obteve sucesso no desenvolvimento de um medicamento de combate à progressão da doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). Cientistas da Universidade da Califórnia (UC) alcançaram resultados positivos no desenvolvimento de inibidores de enzimas que contribuem para a progressão da enfermidade no fígado, de acordo com o artigo publicado na revista The Lancet Gastroenterology and Hepatology.

Testes com o novo medicamento

Tratamento é o primeiro a atuar diretamente no progresso de doenças hepáticas. (Fonte: Shutterstock)

A criação de um tratamento para a DHGNA foi vista com muito orgulho entre os cientistas californianos. Segundo o líder do artigo e professor de Gastroenterologia da Escola de Medicina da UC, Rohit Loomba, as doenças hepáticas gordurosas não eram reconhecidas como um problema até três décadas atrás.

A equipe de pesquisa selecionou 44 pacientes em 16 centros hospitalares no Canadá, na Polônia e na Hungria para o experimento. Durante 13 semanas, metade dos participantes recebeu doses de injeção da partícula inibidora IONIS-DGAT2 enquanto a outra metade consumiu placebo.

A IONIS-DGAT2 é responsável por interferir no processo de reprodução da enzima DGAT2, necessária para a catalisar ou acelerar a produção de triglicerídeos, um dos tipos de gordura encontrados no sangue. Indivíduos com altos índices de triglicerídeos tendem a sofrer com grande acúmulo de gordura, inclusive ao redor do fígado.

Resultados do experimento e impasses

Após o fim do experimento, os cientistas constataram que os indivíduos receptores do agente inibidor tiveram considerável diminuição nas taxas de gordura na região do fígado sem experienciar níveis elevados de gordura, açúcares e enzimas no sangue. Conforme o relatório da UC, grande parte dos pacientes obteve redução de até 30% no índice de massa corporal (IMC) após as 13 semanas de testes.

Seis pacientes apresentaram resultados negativos durante o período de estudo. Entre as adversidades relatadas estavam paradas cardíacas e desenvolvimento de trombose. Após análise mais detalhada, a equipe concluiu que nenhuma das situações foi em decorrência das injeções do inibidor, e os pesquisadores acreditam que o trabalho pode servir como base para o desenvolvimento de novos medicamentos.

Pioneirismo no tratamento contra doenças hepáticas

O excesso de gordura ao redor do fígado é derivado de outras condições humanas de saúde, como obesidade, diabetes e hipertensão. Entre 20% a 40% da população brasileira que está acima do peso sofrem com DHGNA, segundo o relatório da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH).

O grupo afirma que o aumento no número de casos de DHGNA está diretamente relacionado ao grau elevado do IMC, o que poderia representar grande risco para os sistemas de saúde no mundo todo. De acordo com trabalho realizado pela SBH, mais de 1 bilhão de adultos sofrem com sobrepeso no mundo, dos quais 300 milhões têm IMC maior que 30, valor muito superior aos 24 kg/m² indicados como normal.

Até o momento, não existem registros de medicamentos diretamente efetivos contra a DHGNA, fazendo com que os médicos foquem boa parte do tratamento nas condições subjacentes que provocam a gordura no fígado. A realização de transplante também surge como opção quando a doença atinge estágios mais severos.

A importância do fígado

Obesidade é uma das condições que facilitam a aparição de doenças hepáticas. (Fonte: Shutterstock)

O fígado é um dos órgãos com mais funções essenciais. Além de produzir proteínas e armazenar a glicose, é responsável por desempenhar boa parte do sistema imunológico ao filtrar microrganismos e desintoxicar o organismo de substâncias nocivas.

Grande parte das enfermidades hepáticas não apresenta sintomas expressivos, oferecendo grave risco pela sua evolução silenciosa. Dessa forma, indivíduos com condições preexistentes que elevam a possibilidade de doenças no fígado devem manter acompanhamento médico constante.

Dados do Ministério da Saúde indicam que a hepatite C é responsável por mais de 23 mil mortes por ano no Brasil. Em 2017, 40.198 casos de hepatites virais foram registrados no País.

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Fontes: Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Hepatologia, Science Daily e Clinica Ceu

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