Pesquisadores brasileiros criam novo tratamento para câncer de pele

22 de janeiro de 2020 4 mins. de leitura
A terapia fotodinâmica obteve resultados expressivos em testes clínicos no tratamento do câncer de pele não melanoma

Pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP) criaram uma tecnologia para o tratamento não invasivo de câncer de pele não melanoma, o mais recorrente no Brasil e no mundo.

Os testes clínicos realizados em 72 unidades de saúde de todo o país demonstraram que 95% dos tumores foram eliminados com a técnica, especialmente aqueles que estavam em fases iniciais. Além disso, foram efetuados testes em hospitais, clínicas e ambulatórios em outros nove países da América Latina. A tecnologia agora está em avaliação para uma futura implementação no Sistema Único de Saúde (SUS).

Desenvolvida no Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (Cepof), a inovação consiste em um dispositivo que possibilita o diagnóstico e o tratamento do câncer por meio de fluorescência óptica de forma rápida e com poucos efeitos colaterais.

Como funciona o Tratamento Fotodinâmico (TFD)

Segundo informações da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que apoiou o Cepof no projeto, o tratamento é iniciado com a identificação da lesão no paciente. Em seguida, um creme à base de metilaminolevulinato (MAL) é aplicado no local e, ao ser absorvido pela pele, produz nas mitocôndrias das células tumorais um pigmento fotossensibilizante, a protoporfirina.

Após a retirada do creme, emite-se um feixe de luz LED vermelha de determinada frequência com o próprio dispositivo. O contato da luz com a protoporfirina durante 20 minutos estimula diversas reações nas células doentes, eliminando as lesões sem danificar o tecido sadio.

(Fonte: Brás Muniz/IFSC-USP)

O equipamento, fabricado pela empresa de tecnologia para a saúde MMOptics, é capaz de criar imagens de fluorescência no intuito de garantir que toda a área lesionada seja iluminada, dando maior segurança para o procedimento. São necessárias apenas duas sessões para efetivar a eliminação das lesões. Por fim, depois de 30 dias, os pacientes devem fazer uma biópsia para confirmar se o resultado foi bem-sucedido.

O projeto foi financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pela Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep). Seu lançamento foi feito durante o Congresso Escola São Paulo de Ciências Avançadas em Tópicos Modernos em Biofotônica, que aconteceu na USP de São Carlos e reuniu estudantes e pesquisadores do Brasil e do exterior para discussões sobre o desenvolvimento de tecnologias para aplicações biológicas.

(Fonte: Shutterstock)‌‌

O tratamento de câncer de pele não melanoma

De acordo com o Ministério da Saúde, o câncer de pele não melanoma é considerado o mais comum, em 30% dos tumores malignos detectados no Brasil. Apesar de ser o de menor mortalidade e ter grandes chances de cura, pode deixar cicatrizes severas caso não seja diagnosticado e tratado logo no início.

O tratamento mais recomendado é a cirurgia oncológica, que retira definitivamente a lesão, mas existem outros tratamentos eficientes, como a criocirurgia e a imunoterapia tópica. Agora, com a possibilidade da terapia fotodinâmica, outra chance é oferecida aos pacientes com esse tipo de câncer. A técnica já está disponível em hospitais particulares e a previsão é que seja oferecida na rede pública em breve.

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) iniciou uma consulta pública para inclusão do tratamento no sistema. A votação está aberta para toda a população e para cientistas e profissionais da área. Além disso, a Comissão disponibilizou um relatório com informações sobre a incorporação de tecnologias e medicamentos pelo SUS, para esclarecer possíveis dúvidas da população sobre a adesão ao novo tratamento.

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Fontes: Fapesp, IFSC-USP, Ministério da Saúde.

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