Por que a Anvisa proibiu a comercialização de cigarros eletrônicos?

17 de março de 2020 4 mins. de leitura
Riscos para a saúde e prevenção da dependência das novas gerações em relação ao tabaco estão entre as razões

Febre entre os jovens, o cigarro eletrônico — também conhecido como vaper — tem causado controvérsias entre a comunidade médica mundial e os seus usuários. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) — autarquia responsável por promover a proteção da saúde da população no Brasil — proibiu em 2019 a comercialização dos dispositivos, seguindo linhas de ação internacionais, pois os vapers não possuem segurança comprovada e ainda trazem riscos à saúde.

(Fonte: Shutterstock)

O aparelho funciona como um vaporizador, que em vez de ser utilizado por meio da combustão, possui um cartucho no qual é armazenado um líquido com nitocina diluída em água, aromatizantes e outras substâncias químicas, como glicerina e propilenoglicol — que, por sua vez, é aquecido e gera o vapor aspirado pelo usuário. Supõe-se que sejam menos tóxicos que os convencionais, mas os especialistas alertam que os cigarros eletrônicos não são inofensivos, visto que um cartucho equivale, dependendo do fabricante, a cerca de seis a 18 cigarros comuns.

Os riscos dos cigarros eletrônicos

(Fonte: Shutterstock)

Visando conscientizar a população, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) publicou um alerta. Além da dependência química causada pelo consumo da nicotina e dos possíveis problemas respiratórios decorrentes do hábito, os dispositivos eletrônicos são responsáveis, inclusive, por vários acidentes por explosões das baterias, que provocam queimaduras, perda de partes do corpo e até morte.

De acordo com a Pesquisa Nacional da Juventude dos EUA, foi constatado que os jovens são os mais propensos a adotarem o uso dos dispositivos. Em 2017, mais de 2 milhões de alunos do ensino fundamental e do ensino médio eram usuários regulares do cigarro eletrônico. Em 2018, o número chegou a mais de 3,6 milhões. Já no Brasil, o pneumologista e presidente da Comissão de Combate ao Tabagismo da Associação Médica Brasileira (AMB) Alberto Araújo afirma que estudos realizados em 2015 mostraram que 0,38% dos brasileiros entre 12 e 24 anos usaram cigarro eletrônico.

Entre as doenças respiratórias mais comuns estão a fibrose pulmonar, a bronquite crônica e o enfisema. Além disso, ao ser aquecido, o propilenoglicol (líquido em que a nicotina é diluída) se transforma em formaldeído, que é cancerígeno. Devem ser considerados, também, os metais pesados que esse tipo de dispositivo eletrônico possui. A Anvisa estimou 18.740 casos novos de câncer de pulmão entre homens e 12.530 em mulheres para cada ano do biênio 2018-2019.

Apesar de fabricantes alegarem o benefício do uso por adultos já fumantes e dependentes de nicotina, há a crescente preocupação com relação ao incentivo do hábito nas novas gerações — o que invalidaria esforços constantes de iniciativas para diminuir o consumo de tabaco.

Efeitos colaterais

 

Restringir o acesso aos equipamentos impacta, inclusive, os gastos com saúde pública. Documento publicado pelo Inca referente a um estudo de 2011 afirma que o custo para o tratamento de doenças relacionadas ao tabagismo equivale a 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, representando quatro vezes o montante de impostos federais arrecadados pelo setor do tabaco.

Além disso, naquele ano, ao SUS coube um custo médico-hospitalar de R$ 20 milhões para tratar 2.655 tabagistas passivos, enquanto o INSS arcou, em um ano, com o prejuízo de R$ 18,3 milhões no pagamento de benefícios ou pensões em decorrência das mortes dos fumantes passivos pelas doenças estudadas.

Em apenas cinco anos (um prazo curto), o uso de cigarros eletrônicos por fumantes saudáveis levou a efeitos adversos imediatos, como o aumento da resistência ao fluxo das vias aéreas periféricas e do estresse oxidativo, semelhantes aos causados pelo uso de cigarros regulares.

A proibição leva em conta, portanto, acidentes com os equipamentos sem controle de segurança, doenças respiratórias e combate à introdução de gerações mais jovens ao tabagismo. Tudo isso impacta, também, os cofres públicos — e a saúde da população como um todo.

Fontes: Estadão Saúde, Inca, Anvisa.

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