Análise de dados de 600 mil homens encontrou relação entre a altura e a probabilidade de desenvolver demência
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A “demência” é um termo que engloba várias enfermidades que envolvem o comprometimento cognitivo, um exemplo é o Alzheimer. Este afeta cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Atualmente, não há cura para essa doença. Portanto, encontrar formas de identificar indivíduos com risco de desenvolvê-la é essencial para ajudar as pessoas a tomar medidas preventivas.
O desenvolvimento dessa patologia pode ser resultado de exposições genéticas e ambientais ao longo da vida. Um estudo publicado na revista eLife mostra que o risco de apresentar Alzheimer já pode ser estabelecido cedo na vida. A pesquisa, liderada pela professora Terese Sara Høj Jørgensen, da Universidade de Copenhage (Dinamarca), indica que a altura de adultos jovens pode ser um fator de risco em potencial a ser considerado.
Pesquisas anteriores sugeriram que a estatura pode ser um fator de risco para gerar essa enfermidade. No entanto, grande parte dos estudos não tinha sido capaz de considerar fatores genéticos, ambientais, entre outros, que podem estar relacionados à estatura corporal e à patologia.
Os pesquisadores analisaram dados de homens nascidos entre 1939 e 1959. O recorte incluiu 666.333 indivíduos, dos quais 70.608 eram irmãos não gêmeos, e 7.388 eram gêmeos. Os homens desse recorte haviam realizado exames de recrutamento entre 1957 e 1984, e os registros nacionais os seguiram clinicamente até 2016. Ao analisar dados dessas fontes, os especialistas descobriram que 10.599 dos 666.333 pessoas haviam adoecido em algum momento.
A pesquisa revelou uma correlação entre a estatura de um homem e o risco de demência. Em específico, indivíduos maiores do que a média pareciam ter risco menor de ter a enfermidade do que sujeitos mais baixos do que a média. A análise ajustada desse grupo mostrou que houve uma redução de cerca de 10% no risco de despontar a patologia a cada 6 cm de altura em homens com estatura acima da média. Quando a equipe levou em consideração o papel potencial da inteligência ou da educação, a relação não ajustada entre estatura e risco da doença foi apenas ligeiramente reduzida.
O estudo indicou que a relação entre altura e demência também existia quando foram observados irmãos com diferentes alturas, sugerindo que a genética e as características familiares por si só não explicam por que indivíduos mais baixos tiveram maior propensão ao Alzheimer. Isso também ocorreu quando estudaram dados sobre gêmeos, embora os resultados para esse grupo fossem menos certos.
Uma limitação importante do estudo é a incerteza sobre se essas descobertas são aplicadas também para as mulheres. Outros estudos, dizem os pesquisadores, devem verificar se o sexo biológico desempenha algum papel na relação entre estatura e a presença da doença. Além disso, o papel dos fatores familiares não foi totalmente explorado. A contribuição específica de fatores genéticos, independente de fatores ambientais, não pode ser avaliada por análises de pares duplos sem distinção entre gêmeos mono e dizigóticos.
O tamanho do corpo apresenta um forte componente genético, mas, ao mesmo tempo, é influenciado por fatores ambientais, como doenças e nutrição na infância. Pesquisas realizadas em 2014 descobriram que as pessoas baixas têm 50% mais chances de morrer da enfermidade do que as mais altas. A Universidade de Edimburgo analisou dados de 18 estudos envolvendo quase 182 mil pessoas entre 1994 e 2008. A altura dos participantes foi medida, e outras informações coletadas, incluindo status social e histórico de saúde. Das 17.553 mortes durante o acompanhamento em um período médio de 10 anos, 1.093 foram por demência. O estudo constatou que o risco de morte pela doença era 50% maior entre os homens mais baixos em comparação aos mais altos.
O crescimento do corpo pode estar relacionado à enfermidade por ser um indicador das reservas cerebral e cognitiva, bem como das correspondentes diferenças individuais na estrutura do cérebro, o que pode implicar diferenças na resiliência individual em relação ao desenvolvimento da doença.
Outra explicação possível para a ligação entre estatura e doença é a correlação da altura corporal com o nível de hormônio do crescimento, a qual, por meio da função e da cognição do hipocampo, tem sido associada à possibilidade de desenvolver o Alzheimer.
Assim, em vez de ser um fator de risco em si, a baixa estatura corporal é provavelmente um indicador de exposições prejudiciais no início da vida. São necessários, ainda, estudos complementares de alta qualidade e em larga escala com a finalidade de explorar o impacto de fatores ambientais e genéticos precoces para explicar a ligação entre a altura corporal e a demência.
Fontes: Biorxiv, Elifesciences, Sciencedaily.