Ritmo circadiano irregular é vinculado a diagnóstico de Parkinson

28 de junho de 2020 5 mins. de leitura
Pesquisa foi realizada em um período de 11 anos com quase 3 mil participantes na Universidade da Califórnia, em San Francisco

Um estudo realizado pelo Instituto Weill de Neurociências, da Universidade da Califórnia em São Francisco, revelou que ritmo circadiano irregular está associado a diagnóstico de Parkinson em homens com idade média de 76,3 anos. A pesquisa levou em conta dados de 2.930 participantes coletados durante 11 anos de acompanhamento.

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Ritmo circadiano é a maneira pela qual nosso organismo se adapta à duração do período claro e do período escuro – dia e noite – para sincronizar as funções fisiológicas. De acordo com Giovana Dantas de Araújo, professora do curso de Biologia da Universidade de Caxias do Sul e PhD em Cronobiologia Humana, “essa adaptação se dá pela expressão de diferentes genes, os chamados genes do relógio”.

“Nós temos um oscilador central localizado no nosso cérebro, o qual vai regular a expressão desses genes nos seus neurônios de acordo com a presença ou ausência da luz. Esse é o relógio biológico principal, chamado Núcleo Supraquiasmático (NSQ)”, diz a pesquisadora em entrevista à Revista UCS. O que foi revelado com a nova publicação é que homens mais velhos que não mantêm uma rotina adequada de descanso e atividade têm mais probabilidade de desenvolver a doença de Parkinson.

Média de idade dos participantes é de 76,3 anos.
Média de idade dos participantes é de 76,3 anos. (Fonte: Pixabay)

“A força da atividade do ritmo circadiano parece ter efeitos realmente importantes na manutenção da saúde, especialmente no envelhecimento. Nesse estudo, descobrimos que mesmo pequenas alterações em homens com idade mais avançada estão associadas a chances maiores de surgimento da condição degenerativa”, afirma Kristine Yaffe, uma das cientistas envolvidas.

Três vezes mais chances de diagnóstico

Somente nos Estados Unidos, segundo o Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrame, cerca de 500 mil pessoas têm diagnóstico de Parkinson – sendo a segunda condição neurodegenerativa mais comum no mundo todo, atrás apenas do Alzheimer.

Ela é caracterizada por sintomas como: lentidão de movimentos; dificuldade para caminhar; desequilíbrio; instabilidade postural; rigidez muscular; dores musculares; perda progressiva das expressões faciais; alterações na fala e na deglutição; problemas em movimentos finos, como escrita; quadros depressivos; e tremores dos membros em repouso.

De acordo com Yue Leng, principal autora do artigo publicado no periódico JAMA Neurology, a doença pode levar décadas para se desenvolver, mas identificar sinais em estágios iniciais é algo crítico para a compreensão de seu funcionamento. “Essa é a primeira pesquisa realizada em longo prazo para entender a relação entre o ritmo circadiano e a manifestação de Parkinson anos mais tarde.”

Yue Leng, autora principal do estudo.
Yue Leng, autora principal do estudo. (Fonte: Global Brain Health Institute/Reprodução)

Envolvendo seis centros médicos, o estudo contemplou idosos presentes em ambientes comunitários que, além de serem acompanhados, responderam diversos questionários. Nenhum deles possuía Parkinson. O monitoramento, por sua vez, considerou ciclos de repouso e atividade e o uso de actígrafo – aparelho semelhante a um relógio, que mensura movimentos e coleta dados variados.

Com isso, descobriu-se que distúrbios de sono impactaram fortemente os resultados, e foram registradas variáveis que incluíram diferenças regionais, dados demográficos dos participantes, educação, desempenho cognitivo inicial, doenças crônicas, atividade física, sintomas de depressão, índice de massa corporal, tabagismo e uso de benzodiazepínicos, álcool e cafeína.

Por fim, a partir da análise dos parâmetros coletados, 78 dos quase 3 mil participantes tiveram o diagnóstico de Parkinson – e aqueles que pontuaram mais baixo em determinados fatores apresentaram o triplo do risco de desenvolver a condição em comparação com aqueles que pontuaram mais alto.

Outras possibilidades

Modelos construídos a partir de animais revelaram que células responsáveis pelo controle do marcapasso do ritmo circadiano do cérebro geralmente começam a se degenerar antes mesmo das células na parte do cérebro tradicionalmente associada aos sintomas de Parkinson – o que sugere que o ritmo circadiano irregular pode, em alguns casos, representar estágios iniciais da doença.

Yue Leng considera, também, que rupturas do “relógio biológico” possam contribuir para o desenvolvimento da condição, uma vez que são conhecidas por causar alterações metabólicas. Por isso, pretende investigar se a falta de equilíbrio circadiano desencadeia inflamações – ou o contrário.

“Não se trata de algo reversível, mas, se descobrirmos que alterações do ritmo circadiano são fatores de risco para doenças neurodegenerativas manifestados antes de sintomas tradicionais, poderemos utilizar essas informações para detecção e diagnóstico precoces. Poderemos intervir no desenvolvimento do problema”, finaliza.

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Fontes: Science Daily, UCS, Agência Brasil e Global Brain Institute.

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