Robô Laura usa inteligência artificial para detectar sepse - Summit Saúde

Robô Laura usa inteligência artificial para detectar sepse

15 de janeiro de 2020 5 mins. de leitura

Após perder a filha para a sepse, Jacson Fressatto desenvolveu a IA que salva a vida de 12 pessoas por dia

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Todos os anos, mais de 230 mil brasileiros morrem por consequência da sepse, de acordo com um levantamento realizado em parceria entre a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e o Instituto Latino Americano de Sepse (Ilas).

Em 2010, Laura foi uma das vítimas da infecção generalizada; em meio ao luto, seu pai, Jacson Fressatto, decidiu que tomaria uma atitude para tentar reverter esse número. O arquiteto de sistemas criou o primeiro robô cognitivo gerenciador de riscos do mundo e, em homenagem à filha, batizou-o de Robô Laura.

Desde sua estreia, em 2016, o Robô Laura já monitorou cerca de 2,5 milhões de pacientes apenas no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba (PR). A instituição foi a primeira do Brasil a utilizar a inteligência artificial desenvolvida por Fressatto, e, de acordo com um levantamento interno, já ajudou no tratamento de mais de 12 mil pacientes.

Parte do sucesso do Laura em diagnosticar pacientes se deve à forma como sua IA funciona. Através de tecnologias de computação cognitiva e aprendizado de máquina, é capaz de coletar dados de pacientes em hospitais e analisá-los, comparando resultados, para então avaliar os riscos de uma pessoa estar com sepse.

(Fonte: Unsplash)
(Fonte: Unsplash)

Computação cognitiva e aprendizado de máquina

As duas tecnologias associadas são a base de todo o funcionamento do Robô Laura. A computação cognitiva oferece à IA a capacidade de realizar conexões cognitivas e funciona de maneira semelhante com os humanos. Na prática, é através dessa tecnologia que o Laura consegue identificar os dados que recebe e categorizá-los.

Tendo feito o reconhecimento, sempre que encontra um padrão parecido já sabe do que se trata, por já ter criado uma “imagem cognitiva” para isso; é parecido com um humano que se depara pela primeira vez com algum objeto: precisa descobrir o que é aquilo e todas as informações adicionais que puder obter (peso, de que material é feito etc.) para que seu cérebro seja capaz de categorizá-lo e na próxima vez que se deparar com outro objeto igual ou parecido faça a associação imediatamente.

Mas essa é só a primeira parte do processo. Depois que os padrões são criados, um algoritmo de aprendizado de máquina passa a avaliar as ocorrências registradas pelo Robô Laura.

Ele precisa entender as diferenças sutis entre padrões, analisar quais representam um risco e quais não merecem tanta atenção, para então determinar com alto grau de confiabilidade se um paciente pode estar com sepse. Tudo isso precisa ser processado em questão de microssegundos, não apenas pelo elevado número de pacientes mas também para que a equipe médica possa ser notificada o quanto antes.

Robô Laura em ação

(Fonte: Laura/Divulgação)
(Fonte: Robô Laura/Divulgação)

Essa tecnologia brasileira monitora os dados que ficam registrados nos prontuários dos pacientes e em um aplicativo. Também são analisados os resultados de exames e os sinais vitais, para que a IA consiga avaliar cada caso com a maior quantidade de informações possíveis. Isso permite que a equipe médica possa se concentrar em outros processos, mas ainda são os profissionais da saúde que decidem como agir em cada situação.

Um estudo publicado pelo Ilas estimou que 55% dos pacientes com a doença que estão internados na Unidade de terapia intensiva (UTI) acabam falecendo em decorrência das infecções. Mesmo em casos de pacientes que conseguem sobreviver, o risco de sequelas de múltiplos sistemas é alto, por isso é importante que a sepse seja diagnosticada o mais rápido possível.

Segundo Hugo Morales, infectologista e diretor médico da plataforma, comparando os dados de 55 mil pacientes em seis meses antes e seis meses depois que o Robô Laura passou a ser utilizado, houve “redução de 25% de mortalidade, e o tempo de internação diminuiu 10%”. Os dados já foram apresentados em eventos, como o Fórum Internacional de Sepse, e mostram uma oportunidade para milhares de pessoas em todo o Brasil e no exterior.

A IA desenvolvida por Fressatto é um importante passo para que outras pessoas não precisem viver o luto que ele enfrentou. Atualmente, hospitais e universidades de outros países também estão desenvolvendo seus próprios sistemas para alertar possíveis riscos de sepse.

Nos Estados Unidos, o hospital Augusta Health e a ONG Sentara Healthcare, no estado da Virgínia, o Duke University Hospital, na Carolina do Norte, e a Universidade Johns Hopkins, em Maryland, já trabalham com soluções semelhantes à do Robô Laura. O mesmo acontece no Imperial College London, no Reino Unido.

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Fontes: Laura, Estadão Saúde.

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