Sanitation economy: por que o Brasil deve apostar nessa ideia

19 de julho de 2020 5 mins. de leitura
O acesso ao saneamento básico é essencial para a saúde, e um novo olhar sobre os serviços pode contribuir muito para disseminá-los

Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), boa parte dos lares brasileiros não tem acesso a saneamento básico: apena 68,3% das residências estão conectadas à rede de esgoto, sendo que 46% do material são devidamente tratados. Como já foi analisado aqui no portal do Summit Saúde Estadão, a falta de saneamento gera diversos problemas de saúde pública, como maior incidência de doenças, aumento de mortalidade e grande demanda por serviços de saúde.

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Sendo assim, é compreensível que um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU), seja justamente a universalização do saneamento básico. E o Brasil se comprometeu a atingi-los.

Mas esse não é um problema exclusivamente brasileiro: a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 2 bilhões de pessoas (cerca de um quarto da população mundial) não têm acesso a saneamento básico. Em vista disso, diversas entidades públicas e privadas estão se propondo a enfrentar essa questão de outra maneira: em vez de encará-lo como um problema que custa caro para ser resolvido, é possível enxergá-lo como uma oportunidade de negócios. É a chamada sanitation economy.

Mais de 30% dos brasileiros não tem acesso a saneamento (Fonte: Unsplash)
Mais de 30% dos brasileiros não têm acesso a saneamento. (Fonte: Unsplash)

Oportunidades de negócio no esgoto

Os ganhos financeiros de investir em saneamento básico são nítidos, mesmo sem levar em conta as possibilidades econômicas que podem surgir disso; segundo a OMS, cada dólar investido em redes de água e esgoto gera US$ 4,3 dólares de economia em serviços de saúde pública. Além disso, os defensores da sanitation economy acreditam que o saneamento básico pode oferecer emprego e renda.

Uma das principais entusiastas dessa ideia é a Toilet Board Coalition (TBC), uma entidade criada em 2015 unindo grandes empresas, como Unilever e Kimberly-Clark, e órgãos como Banco Mundial e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para difundir o saneamento básico e os preceitos da sanitation economy.

Um dos fundamentos mais importantes dessa ideia é a participação do setor privado no saneamento básico, provendo serviços e gerando empregos e lucros que movimentam a economia. Estudos da TBC mostram que esse mercado pode render 62 bilhões de dólares apenas na Índia já em 2021. Isso vai muito além da instalação de canos de água e esgoto e inclui a venda de vasos sanitários e outras peças para a casa, bem como produtos de higiene pessoal e limpeza.

E as oportunidades vão além quando se leva em conta que mais de 3,8 trilhões de litros de dejetos, gerados todos os anos, poderiam ser aproveitados para criar adubo, biomassa e energia, entre outras aplicações, em vez de poluir as águas, como ocorre sem saneamento básico. Em seus materiais, a TBC elenca dezenas de empresas que já trabalham em soluções para movimentar esse tipo de economia e observa oportunidades de negócio e geração de empregos nos dejetos.

Saneamento básico digital

Estratégias de digitalização são interessantes para o Brasil, em que mais de 80% da população têm smartphones com acesso à internet, segundo dados da consultoria GSMA. Na verdade, existem mais pessoas com um celular do que com saneamento básico no País. Dessa maneira, a tecnologia pode ser usada justamente para viabilizar os serviços.

Em países como Índia e Uganda, smartphones já são usados para melhorar saneamento (Fonte: Unsplash)
Na Índia e em Uganda, smartphones são usados para melhorar o saneamento. (Fonte: Unsplash)

Pensar em sanitation economy é mais do que uma questão de infraestrutura, e sim de levar serviços à população, independentemente da forma utilizada. Um exemplo disso é Kampala, capital de Uganda, onde não há uma complexa rede de coleta de esgoto e cerca de 90% dos habitantes precisam que alguém limpe as fossas diariamente. Porém, a coordenação desse serviço é feita de forma muito eficiente por aplicativos e pelo GPS dos smartphones.

No estado de Odisha, no leste da Índia, o governo criou a plataforma de e-commerce colaborativa Svadha, na qual pequenas empresas locais podem oferecer equipamentos e serviços de saneamento básico para a população. Isso permite que a estrutura chegue a locais que o Estado não consegue alcançar, além de gerar emprego e renda para quem faz parte da plataforma.

Com a popularização e o barateamento das tecnologias, sensores podem ser usados para resolver problemas antigos do sistema de saneamento do Brasil, como desperdício de água — segundo o Instituto Trata Brasil, a cada 100 litros de água captados no País, 38 litros não chegam aos consumidores por problemas na rede.

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Fontes: Banco Mundial, GSMA, Toilet Board Coallition.

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