Medicamento utilizado em pacientes com Alzheimer pode ser eficaz no tratamento da doença de Chagas
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Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), publicada em setembro de 2019 na revista científica Plos Neglected Tropical Diseases, revelou que um remédio utilizado no tratamento de Alzheimer pode ser eficaz contra o protozoário Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas.
De acordo com dados divulgados pelo Médicos Sem Fronteiras (MSF), existem 8 milhões de pessoas infectadas pela doença no mundo — entre 1,9 milhão e 4,6 milhões no Brasil.
Foram analisados camundongos infectados pelo inseto conhecido como barbeiro ou chupança, transmissor da doença, que receberam o princípio ativo da memantina durante o tratamento. Foi possível observar a redução da quantidade de parasitas nos animais, o que, consequentemente, diminuiu a taxa de mortalidade entre eles. E concluiu-se que a substância pode ser uma alternativa promissora no tratamento da doença de Chagas.
O parasita responsável é encontrado principalmente nas áreas endêmicas dos 21 países da América Latina, onde a doença é transmitida principalmente aos seres humanos através do contato com excrementos de triatomíneos, uma variedade de percevejos com nomes diferentes, dependendo da região.
A doença de Chagas tem duas fases clínicas nos seres humanos: aguda e crônica. A fase aguda ocorre logo após a infecção, quando o parasita entra no hospedeiro mamífero. Essa etapa é amplamente assintomática, mas, em alguns casos, pode ser acompanhada por febre e dor de cabeça. Os primeiros sinais visíveis característicos podem ser uma lesão na pele ou um edema arroxeado nas pálpebras, febre, dor de cabeça, linfedema, palidez, dor muscular, dificuldade para respirar, edema e dor abdominal ou torácica.
Durante a fase crônica, os parasitas se escondem principalmente nos músculos cardíaco e digestivos. Até 30% dos pacientes sofrem de distúrbios cardíacos e até 10% de distúrbios digestivos ou neurológicos. A infecção pode levar à morte súbita devido a arritmia cardíaca ou insuficiência cardíaca progressiva, causada pela destruição do músculo cardíaco e de seu sistema nervoso.
A doença, que ainda não tem vacina, costuma ser tratada com benzonidazol ou nifurtimox, medicamentos que são quase 100% eficazes e podem curar a doença quando administrados logo após a infecção, no início da fase aguda, tendo em vista que a eficácia diminui conforme a doença avança. No entanto, esses remédios são tóxicos e causam graves efeitos colaterais, dificultando o tratamento.
Portanto, os principais objetivos dos países latinos deve ser a eliminação da transmissão da doença através de conscientização e prevenção. Dependendo da área geográfica, a OMS recomenda os seguintes métodos:
O resultado da pesquisa da USP traz a esperança de que novas substâncias sejam capazes de apresentar bons resultados no tratamento de pacientes infectados pelo Trypanosoma cruzi. Um dos fatores positivos para o uso da memantina no desenvolvimento de um medicamento para curar a doença de Chagas é que ela já é utilizada nos seres humanos.
De acordo com uma entrevista cedida ao Jornal da USP pelo coordenador da pesquisa, Ariel M. Silber, “já sabemos, por exemplo, qual é a dose máxima que pode ser utilizada em um paciente infectado, os possíveis efeitos colaterais, a velocidade com que o organismo elimina a substância. Existe muito conhecimento acumulado sobre a droga que pode valer para o seu uso no tratamento da doença de Chagas”.
Fontes: Jornal USP, Ministério da Saúde.