Estudos sobre essa correlação ainda são inconclusivos
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Símbolo da emancipação feminina desde os anos 1960, o anticoncepcional à base de hormônios é usado por 13% das mulheres em idade reprodutiva, segundo as Nações Unidas. Apesar de eficiente, a solução ainda é muito questionada por seus efeitos adversos, e uma das relações investigadas diz respeito ao câncer de mama. Será que quem adere ao método tem mais chance de desenvolver a doença?
Essa pergunta embasou um estudo da Universidade de Copenhague (Dinamarca), que avaliou 1,8 milhão de mulheres entre 15 anos e 49 anos que nunca tiveram câncer, tromboembolismo nem fizeram tratamento contra infertilidade. O grupo foi acompanhado durante 10 anos e houve um caso de câncer de mama a mais do que o esperado para cada 7.690 usuárias de anticoncepcionais hormonais.
Ainda segundo a pesquisa, publicada no The New England Journal of Medicine, em 2017, a incidência aumentava conforme o uso do contraceptivo se estendia, e os riscos eram grandes mesmo depois de a pessoa abandonar o método. Os produtos orais eram os mais arriscados, mas opções via dispositivo intrauterino (DIU) à base de progesterona também foram associadas a um risco elevado da condição.
Esse estudo se destacou em meio a outros porque foi longo, denso e analisou milhões de mulheres (há vários com amostras menores ou desenvolvidos em animais). Mas a Ciência ainda não “bateu o martelo” para a correlação entre anticoncepcional e câncer de mama.
Em primeiro lugar, porque o número absoluto de casos identificados na pesquisa dinamarquesa não é tão grande. Os dados também não apresentaram uma relação de causa e efeito, além disso não entraram na conta variáveis como o sedentarismo e o consumo de álcool, que podem estar associadas à doença.
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Assim, à época da publicação, entidades especializadas do mundo todo celebraram a divulgação dos resultados, mas fizeram ponderações. Esse foi o caso da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
A organização listou cinco tópicos controversos do estudo que demandam uma análise mais aprofundada. Entre as mulheres que utilizaram contracepção hormonal por menos de 5 anos, por exemplo, não houve risco aumentado.
A entidade citou ainda outra pesquisa sobre o tema, liderada pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos. O estudo estadunidense analisou mais de 10 mil mulheres entre 35 anos e 64 anos que usam ou já usaram anticoncepcionais hormonais, concluindo que a utilização atual ou pregressa não promoveu aumento do risco de câncer de mama.
Enquanto não há uma conclusão fechada sobre o tema, é importante se atentar aos fatores de risco já considerados pela comunidade científica: idade acima dos 50 anos, condições endócrinas, histórico reprodutivo e aspectos genéticos. No mais, não se esqueça de colocar o autoexame das mamas na sua rotina de autocuidado. A prevenção e o diagnóstico precoce ainda são as principais “armas” contra a doença.
Fonte: Febrasgo, Inca, Oncoguia, Sociedade Brasileira de Mastologia, The New England Journal of Medicine.