Mais da metade das pessoas diagnosticadas com infecções pelo coronavírus apresentaram sintomas de covid longa, aponta estudo
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A covid longa atinge mais da metade das pessoas diagnosticadas com infecções pelo coronavírus, segundo um estudo da Fiocruz Minas publicado na revista Transactions of The Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene. Durante 14 meses, a pesquisa acompanhou mais de 600 pacientes, dos quais um terço desenvolveu a forma grave da doença.
A presença de comorbidades, como hipertensão arterial crônica, diabete, cardiopatias, câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal crônica e tabagismo ou alcoolismo, aumentou a gravidade da infecção aguda e a chance de ocorrência de sequelas.
“As pessoas vacinadas tendem a apresentar menor frequência de sintomas pós-covid”, explica o médico infectologista Dr. Max Igor Lopes. As consequências estão mais presentes em pessoas com quadros sintomáticos na infecção inicial, atingidas pela primeira onda de disseminação do coronavírus.
A covid longa, também conhecida como síndrome pós-covid ou covid persistente, é uma condição na qual as pessoas continuam a apresentar sequelas após a recuperação inicial da infecção pelo vírus Sars-CoV-2. Mesmo após a fase aguda da doença, alguns indivíduos experimentam uma série de sintomas que podem durar semanas ou até mesmo meses.
Essa síndrome não é exclusiva da covid-19 e já foi observada em outras infecções virais, como a Sars e a Mers. A doença ganhou destaque devido à magnitude da pandemia de covid-19 e à extensão dos sintomas relatados. As causas não são conhecidas, mas podem estar relacionadas à resposta imunológica ou à presença do vírus em algumas partes do corpo.
“Devido aos sintomas persistentes, as pessoas com covid longa podem enfrentar um impacto emocional importante, pois essas alterações geralmente provocam limitações que antes não estavam presentes”, explica o infectologista. Esses pacientes necessitam de acompanhamento e tratamento por longos períodos.
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Existem mais de 200 sintomas relacionados à covid longa. “Alguns guardam relação com a intensidade da doença inicial, porém outros podem aparecer mesmo em pessoas com quadros mais leves de covid-19”, comenta Lopes. Indivíduos de todas as idades podem ser afetados, independentemente da gravidade da fase aguda da infecção inicial.
Os principais sintomas de covid longa envolvem cansaço ou fraqueza, falta de ar, alterações cognitivas, dor de cabeça e alterações de olfato e paladar. “Esses sintomas são diferentes dos que acontecem na infecção aguda pelo coronavírus, caracterizada por febre, dor de garganta e sintomas respiratórios, por vezes acompanhada de dor de cabeça e dor no corpo”, ressalta o médico.
Em uma pesquisa realizada com mais de 1 milhão de pessoas em Israel e publicada na revista científica BMJ, a ocorrência dos sintomas de covid longa foi menor em crianças do que em adultos. Segundo as descobertas do trabalho, os idosos apresentam maiores chances de sequelas, especialmente queda de cabelo e falta de ar.
O diagnóstico da covid longa é desafiador para os profissionais de saúde, pois envolve a análise de múltiplos sintomas que podem estar associados a outras doenças, e o mecanismo da enfermidade ainda é pouco estudado. “Existe dificuldade em determinar a natureza exata de cada sintoma e definir o melhor tratamento”, alerta o infectologista.
Alguns sintomas aparecem logo depois da infecção inicial e persistem, enquanto outros surgem tardiamente, mas podem ter relação com a covid-19. “Há sintomas que podem ser mais ou menos intensos ao longo do tempo ou até sumir e voltar em determinados períodos”, relata. O diagnóstico da covid longa é realizado pela exclusão de outras possíveis causas.
Devido à natureza diversificada dos sintomas, o tratamento é personalizado e multidisciplinar, envolvendo profissionais de saúde de diversas especialidades. Os pacientes podem ser tratados com reabilitação e terapias físicas, medicamentos para os sintomas, além de suporte nutricional e assistência psicológica para melhorar a qualidade de vida.
Max Igor Lopes é médico infectologista do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e atua como consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).