Quantas cepas do novo coronavírus existem? - Summit Saúde

Quantas cepas do novo coronavírus existem?

14 de junho de 2020 5 mins. de leitura

Diversidade genética pode dificultar vacinas e tratamentos da covid-19, mas não há consenso científico sobre a existência de mais de uma cepa do Sars-Cov-2

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Pesquisadores de todo o mundo continuam estudando as características da covid-19, em busca de vacinas e tratamentos possíveis. Nesse sentido, o material genético do novo coronavírus ganhou uma atenção especial. Os cientistas foram rápidos em sequenciar o RNA do vírus e identificar uma grande diversidade genética.

Alguns estudos sugerem que as mutações genéticas podem ter resultado no surgimento de uma nova cepa do Sars-Cov-2. Com isso, a imunização de pessoas já recuperadas, terapias a partir de anticorpos ou até uma futura vacinação podem ser ineficientes para evitar novas ondas da pandemia.

No entanto, ainda não há consenso científico sobre o assunto. As mutações são um subproduto normal da replicação dos vírus. Grande parte das alterações não representam um impacto na biologia ou no funcionamento virais. Dessa forma, as mutações podem não ser significativas o suficiente para gerar novas cepas.

Mutação genética em coronavírus

Colaboração científica em um nível internacional permitiu a identificação de diversas variedades genéticas do Sars-Cov-2. (Fonte: Shutterstock)

Mutações genéticas acontecem de forma natural e cotidiana. Toda vez que o material genético é copiado gera pequenas diferenças na sequência de proteínas. Com os organismos baseados em RNA, como o novo coronavírus, essas alterações são mais frequentes, porque o genoma codificado em uma única cadeia é mais propenso a erros ao fazer novas cópias.

Um estudo da University College of London (UCL) identificou 198 alterações recorrentes e independentes no Sars-Cov-2, o que indica a capacidade de adaptação do vírus aos humanos. A mutação é natural na mudança de vetor — por exemplo, de morcegos para pessoas, a fim de evitar as defesas naturais e aprimorar a interação com as células do novo hospedeiro.

A maioria das mutações genéticas, entretanto, não causa um impacto significativo no comportamento da doença. Algumas, inclusive, são prejudiciais ao próprio vírus, representando um resultado benéfico ao hospedeiro. Ainda é cedo para avaliar se o Sars-Cov-2 está se tornando mais letal ou contagioso, alertam os autores do estudo da UCL.

Cepas de coronavírus

O Mers-Cov é transmitido de camelos para humanos, diferentes das outras cepas de coronavírus. (Fonte: Shutterstock)

A urgência para entender e encontrar soluções para combater a covid-19 pode levar a conclusões equivocadas. Com a grande divulgação sobre a pandemia, até mesmo a literatura científica têm difundido a existência de novas cepas de coronavírus. A maioria dos estudos são publicados em formato de pré-impressão e não passaram pela revisão de outros cientistas.

Nem todas as variações genéticas podem ser consideradas cepas diferentes. Estas são definidas de acordo com a origem do vírus e também pelas variantes que apresentam alterações significativas na imunogenicidade. Até o momento, o consenso científico indica a existência de seis cepas de coronavírus capazes de infectar humanos.

Um dos tipos de coronavírus foi identificado pela primeira vez na década de 1960, pela virologista escocesa June Almeida. Três tipos não causam infecções graves em humanos. Duas cepas registradas na Ciência, o Sars-Cov e o Mers-Cov, foram responsáveis por epidemias ocorridas já no século 21. O Sars-Cov-2, vírus responsável pela covid-19, é a mais nova cepa dessa espécie.

Diferenças entre as cepas conhecidas

O Sars-Cov é o primeiro tipo de cepa identificada no século 21. O tipo foi identificado em 2002 na província chinesa de Guangdong. Os morcegos-ferradura foram identificados como reservatório inicial do vírus. O patógeno causa sintomas como tosse, febre e diarreia, apresentando uma taxa de mortalidade de 9,6%.

O Mers-Cov foi identificado em 2012, na Arábia Saudita. A transmissão ocorre, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo contato direto ou indireto com camelos e dromedários, mas é rara entre pessoas. A infecção causada por esse tipo de vírus causa sintomas como febre, tosse e falta de ar, apresentando uma taxa de mortalidade de 34,3% dos casos.

O primeiro registro do Sars-Cov-2 foi realizado em dezembro de 2019. O vírus tem uma grande semelhança com o Sars-Cov, mas apresenta um grau de propagação maior e taxa de mortalidade menor (entre 1,38% e 3,4%). Seus principais sintomas são tosse seca, febre e falta de ar. Apesar da diversidade genética encontrada, não há evidência científica da existência de outras cepas do vírus.

Controle das doenças

Ainda não existem vacinas ou tratamentos comprovados para as três cepas mais perigosas para os humanos. O Sars-Cov foi erradicado, e as infecções causadas pelo Mers-Cov foram controladas. O sucesso da contenção dessas epidemias foi obtido com medidas de isolamento e proteção individual.

O Sars-Cov-2, no entanto, apresenta um desafio maior. Por sua maior capacidade de transmissão, o vírus se espalhou pelo mundo, diferente das outras duas cepas. Mesmo que alguns países ou regiões possam controlar a covid-19, a enfermidade pode apresentar crescimento em outros locais, provocando várias ondas de surtos.

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Fontes: Medical News Today, Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (Sbac), Virology, Instituto Butantan, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e BioSerendipity.

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