Pesquisadores brasileiros encontraram relação entre genética humana e infecções pelo vírus Sars-CoV-2, o que pode ser usado para desenvolver novas vacinas
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As vacinas contra o coronavírus podem se tornar ainda mais eficientes no futuro. De acordo com um novo estudo desenvolvido pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), existe uma relação genética entre o vírus Sars-CoV-2 e os diferentes povos no mundo.
Os pesquisadores conseguiram identificar um padrão de reconhecimento dos peptídeos virais por alelos do antígeno leucocitário humano (HLA) — grupo especial de proteínas localizado na superfície de quase todas as células humanas.
Segundo o documento, esse padrão estaria associado às mortes por coronavírus, o que facilitaria aos cientistas identificar quais são as pessoas que formam os grupos de risco.
É a primeira vez desde o início da pandemia que alguma instituição científica conseguiu identificar uma associação de fatores genéticos ao reconhecimento de padrões virais em estudos clínicos de covid-19. A metodologia foi desenvolvida dentro do Laboratório de Bioinformática e Biologia Computacional do INCA.
Conforme os dados apresentados pela pesquisa, as células do sistema humano imune identificam os antígenos carregados pelo HLA e impedem que um corpo estranho se prolifere pelo organismo. Dessa forma, o HLA teria a capacidade de se ligar a uma proteína do vírus e sinalizar para o restante do sistema imunológico a existência de um “elemento estranho” junto à célula.
Para a confecção do estudo, o INCA utilizou as ferramentas de bioinformática de seu laboratório para analisar quais dos 3.723 peptídeos derivados de diferentes proteínas do Sars-CoV-2 são apresentados pelos mais de 100 alelos de HLA com mais frequência em 37 países de 4 continentes — África, América, Ásia e Europa.
“Ao sermos impactados pela pandemia, nos unimos nesse esforço mundial para tentar melhor compreender a biologia da infecção pelo Sars-CoV-2 através da aplicação das metodologias computacionais que desenvolvemos em nosso laboratório”, disse Mariana Boroni, cientista do INCA e líder da pesquisa, em comunicado oficial.
Segundo Boroni, a correlação entre o padrão de reconhecimento viral de cada país com dados epidemiológicos apresentam um modelo de observação nunca visto antes e fornecem dados mais concretos sobre o impacto no número de mortes associadas à covid-19 por milhões de habitantes e que podem ser utilizados para a confecção de novas vacinas.
O combate imunológico à infecção por coronavírus varia dependendo das características genéticas de cada região do planeta. Sendo assim, o estudo observou que a destruição de células infectadas pode se dar de maneiras completamente diferentes dependendo da etnia de uma pessoa. O documento apresentou a seguinte conclusão:
Por ser um país com grande diversidade genética dentro de sua população, o Brasil pode observar uma maior diferença de evolução do coronavírus entre as pessoas. Em países geneticamente homogêneos, a resposta imunológica costuma ser semelhante entre as pessoas.
Na visão de Marina Boroni, o estudo conduzido pelo INCA surge como um grande passo no desenvolvimento de novas vacinas para covid-19 no futuro. Ao compreender as particularidades genéticas de seus povos e observar o impacto desses fatores na infecção por coronavírus, cada região poderia desenvolver imunizantes mais eficazes e que atinjam uma maior parcela da população.
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Fonte: Medicina S/A.