O surgimento recente da variante ômicron gerou temores sobre a eficácia das vacinas disponíveis contra a covid-19
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Assim que notícias sobre uma nova variante de preocupação da covid-19 começaram a surgir na África do Sul, no fim de novembro, milhões de pessoas se fizeram a mesma pergunta: será que as vacinas já existentes são eficazes contra a ômicron? Se a nova cepa do vírus pudesse escapar totalmente dos anticorpos, diversos países poderiam retornar à “estaca zero” na luta contra a covid-19. Contudo, pesquisas eram necessárias para responder a essa questão.
Semanas depois dos primeiros casos da ômicron, algumas respostas nesse sentido começam a ser oferecidas pela ciência — e pelos fabricantes das vacinas. A variante ômicron não escapa totalmente dos anticorpos de infecções e vacinas. Mas, ainda assim, a situação é preocupante e demanda ações contundentes das autoridades e da população: novas doses do imunizante podem ser necessárias, para pessoas já vacinadas contra a covid-19.
Das cerca de 50 mutações da ômicron, mais de 30 estão na proteína spike, parte que o vírus usa para invadir as células humanas. É aí que mora o problema: muitas das vacinas aplicadas atualmente usam justamente a proteína spike para induzir a resposta imune, aumentando os temores sobre a eficácia das vacinas contra a nova variante da covid-19.
Conforme noticiado pelo Estadão no início de dezembro, as primeiras pesquisas já indicaram que a ômicron realmente consegue driblar a primeira camada de imunização — os anticorpos produzidos pelas vacinas atuais, com proteínas spike de outras variantes, são menos efetivos contra a ômicron e suas mutações.
Um estudo realizado com 12 pessoas em Durban, África do Sul, indica uma proteção 41 vezes menor. Outra pesquisa feita na Cidade do Cabo mostrou quedas variáveis: em certas amostras, a imunidade permaneceu a mesma, mas ficou 25 vezes menor em outras. A mesma diminuição — 25 vezes — foi observada em testes preliminares da Pfizer. As pesquisas ainda precisam ser revisadas por outros cientistas, antes da publicação.
Ainda que os números sejam preocupantes, o resultado não é de todo ruim — havia temor de que as vacinas fossem completamente ineficazes contra a ômicron. Dessa forma, obter alguma proteção, ainda que mais frágil, é melhor que ter vacinas ineficazes. Essa descoberta também oferece um caminho relativamente simples para barrar a ômicron: doses de reforço para criar mais anticorpos contra a variante, uma hipótese que a Pfizer está provando, em testes.
Além de aumentar o número de anticorpos contra a covid-19, as novas doses criariam uma resposta imune “mais inteligente” contra o vírus, com anticorpos melhores.
Também é importante observar que os anticorpos não são o único tipo de resposta imune gerado pelas vacinas. Há também as células T, por exemplo, que impedem que a infecção se torne grave — evitando casos sintomáticos, hospitalizações e mortes. Enquanto a imunidade contra infecções caiu de 80% (delta) para 33% (ômicron), a eficácia contra internações diminuiu menos: de 93% para 70%, segundo um estudo realizado na África do Sul.
Em resumo, mesmo que a ômicron drible os anticorpos, dificilmente a pandemia de covid-19 voltará à mesma situação de 2020, com colapso geral dos sistemas de saúde. Sobre novos imunizantes mais eficazes contra essa variante, a Pfizer afirmou que pode entregá-los dentro de 100 dias. Já a AstraZeneca diz apenas que sua plataforma de vacinas permite adaptações rápidas, mas não ofereceu um prazo.
Por fim, vale mencionar que uma nova geração de imunizantes deve chegar ao mercado em 2022 e 2023, oferecendo uma proteção maior e mais duradoura contra diversas variantes da covid-19, armazenamento mais simples, administração por spray ou comprimido — entre outros avanços. Por enquanto, as vacinas já disponíveis são a melhor forma de lutar contra a covid-19.
Fonte: BBC, Washington Post, Nature, Reuters, Estadão, Deutsche Welle.