Covid-19: por que as vacinas estão concentradas em poucos países?

16 de abril de 2021 4 mins. de leitura
Gestão da vacinação por governos e pela indústria farmacêutica reproduz desigualdade geopolítica

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Desde o início da pandemia da covid-19, diversos países têm se dedicado a pesquisar vacinas que combatam o Sars-CoV-2. Mas se o objetivo comum na busca pela vacina trouxe algum otimismo, o clima de cooperação logo deu lugar à competição de mercado.

A descoberta de vacinas em tempo recorde dependeu de um parque tecnocientífico desenvolvido e expertise nessa área. Por isso, dos 193 países reconhecidos pelas Nações Unidas, apenas 11 estão entre os capazes de pesquisar, desenvolver e produzir vacinas em larga escala. 

Tanto quanto a produção, a distribuição das vacinas é um problema. A desigualdade no acesso às doses revela uma assimetria brutal entre os países. Mas o que está por trás disso? 

Protecionismo sobre a imunização custa vidas

Desigualdade na distribuição das vacinas expõe a extensão dos interesses econômicos. (Fonte: Michelmond/Shutterstock)
Desigualdade na distribuição das vacinas expõe a extensão dos interesses econômicos. (Fonte: Michelmond/Shutterstock)

O mercado funciona sob a lógica da multilateralidade: tanto quanto possível, o governo não deve impor uma agenda ao mercado. Em vez disso, deve permitir que ele se autorregule entre os diversos atores e só intervir em casos bastante específicos. Quando isso não ocorre, diz-se que o governo é protecionista: usa seu poder de negociação para proteger determinados interesses do país, ferindo a “regra do jogo”.

Mas se essa política é polêmica em se tratando de commodities ou produtos fabris, o que dizer quando vale vidas? Afinal, é isso que a vacina garante. Ao direcionar imunizantes para sua própria população ou para países parceiros, os produtores dessas doses criam um problema bioético sem precedentes e ratificam que o dinheiro e a influência política salvam vidas diretamente.

O que fazer diante do problema? Não há regulação para a questão, o que dificulta o debate, mas é fato que há uma distorção no fato de Reino Unido, Israel, Estados Unidos e Uruguai vacinarem adultos e outros países sequer terem iniciado faixas etárias de grupo de risco.

Politização sobre vacina é um problema ético

Atualmente, dez países concentram três em cada quatro vacinados contra o coronavírus, o que aponta que, até agora, a regra de “cada um por si” tem prevalecido. 

Diante da constatação de que os órgãos internacionais não são capazes de criar uma política de governança eficaz sobre a vacinação, os insumos passam a ser usados de forma preferencial na população de quem produz os imunizantes e de aliados. Não só o dinheiro, mas boas amizades parecem valer ouro em meio à pandemia.

Isso acontece no caso de países cujos governos têm agendas mais heterodoxas, como Índia, China e Rússia, mas também em blocos geopolíticos, como a União Europeia. O Reino Unido vacinou proporcionalmente quatro vezes mais que a Alemanha, por exemplo.

Manutenção das patentes em meio à pandemia

Especialistas defendem o licenciamento compulsório das patentes durante a pandemia. (Fonte: StockStudios Aerials/Shutterstock)
Especialistas defendem o licenciamento compulsório das patentes durante a pandemia. (Fonte: StockStudios Aerials/Shutterstock) 

Mas não são apenas os governos que têm procurado conseguir ganhar vantagem diante dos imunizantes. Há no mundo hoje grandes corporações farmacêuticas que lutam pela manutenção das patentes em meio à crise sanitária.

Se é verdade que a legislação e os acordos internacionais garantem a propriedade intelectual sobre descobertas científicas e tecnológicas, é fato também que isso não deveria estar acima da necessidade de imunizar as 8 bilhões de pessoas que habitam o planeta.

Há diversos países com infraestrutura para replicar a produção da vacina, mas que precisariam do licenciamento compulsório (popularmente, a “quebra da patente”) durante o período crítico da pandemia. Essa é outra queda de braço em que o dinheiro parece levar vantagem sobre populações inteiras.

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Fonte: Saude Business, Estadão.

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