Pesquisa constata que divulgação constante de dados da pandemia do novo coronavírus ajuda a prevenir mortes de idosos
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Uma pesquisa realizada pelas universidades da Califórnia em San Diego (UCSD), Estadual da Pensilvânia e de Chicago mostra que a divulgação detalhada e constante de casos de covid-19 é mais eficaz na redução de mortes do que medidas de isolamento social e lockdown. Para isso, cientistas analisaram as medidas aplicadas na Coreia do Sul para combater o avanço do novo coronavírus: até meados de maio, o país havia registrado 11.142 casos, enquanto os Estados Unidos tinham, no mesmo período, mais de 1 milhão e meio de pessoas contaminadas.
O surto de covid-19 foi identificado em 13 de janeiro, e desde o primeiro dia os sul-coreanos foram informados sobre novos casos na vizinhança e locais visitados por pessoas infectadas. Para o professor de Economia da UCSD, Munseob Lee, essa foi a ação mais efetiva na prevenção da doença até agora. “Nossos dados mostram que as informações de divulgação pública da Coreia do Sul foram eficazes na mudança do comportamento dos cidadãos para reduzir a taxa de infecção sem bloqueios impostos pelo governo”, explicou.
Seul, a capital da Coreia do Sul, é uma das cidades mais densamente povoadas do mundo, com cerca de 10 milhões de habitantes (equipara-se a São Paulo, que tem 11,8 milhões de moradores). Apesar de não ter implementado restrições ou isolamento social à população, o governo forneceu informações em tempo real, por meio de mensagens de texto, sobre indivíduos que apresentaram resultados positivos para covid-19. Com isso, em 22 de maio, a metrópole tinha 758 casos confirmados e apenas três mortes. O governo também desenvolveu um site e um aplicativo para permitir que os residentes acessem informações atualizadas.
A estratégia adotada pelos sul-coreanos foi possível porque as leis de gerenciamento e compartilhamento público de informações sobre pacientes com doenças infecciosas mudaram após o surto de Mers em 2015. Em caso de emergência nacional de saúde, os Centros da Coreia para Prevenção de Controle de Doenças estão autorizados a usar dados de GPS, câmeras de vigilância e transações com cartão de crédito para acompanhar a rota de pessoas infectadas até um dia antes de os sintomas aparecerem.
Os alertas enviados à população mostram idade, gênero e registro detalhado do caminho percorrido pelos doentes, dados que são resultado da combinação de dados do telefone celular e do cartão de crédito dos indivíduos. De acordo com o pesquisador da Universidade de Chicago, Chang-Tai Hsieh, a divulgação de informações públicas viola a privacidade dos afetados. “Não tentamos medir o custo da perda de privacidade, mas, sempre que essas medidas estão disponíveis, elas podem ser comparadas aos benefícios da divulgação pública que fornecemos aqui”.
Para os pesquisadores, a divulgação desses dados estimulou mudanças significativas nos padrões de deslocamento. Nos distritos onde havia mais casos de covid-19, as pessoas se tornaram menos propensas a se locomover; nos locais com menos casos confirmados, a propensão era maior.
Ao comparar os números de casos confirmados apresentados pela Coreia do Sul com o modelo de prevenção utilizado, há uma diferença significativa nas mortes causadas por covid-19.
No sistema atual, com informação constante, estima-se que nos próximos dois anos Seul apresente 925 mil casos cumulativos, com 17 mil mortes (10 mil de pessoas com 60 anos de idade ou mais e 7 mil entre 20 anos e 59 anos) e perdas econômicas que representam em média 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Quando esses valores são comparados com um modelo de isolamento parcial, sem divulgação pública, o estudo projeta que pelo menos 40% da população teria que ficar em casa por cerca de 100 dias para ter o mesmo número de casos confirmados de covid-19 que no modelo completo de divulgação.
Nesse cenário, a quantidade de casos permanece a mesma, mas as mortes aumentam para 21 mil (14 mil para aqueles com 60 anos ou mais e 7 mil entre 20 anos e 59 anos) e as perdas econômicas sobrem para 1,6% do PIB. “Nossa pesquisa mostra que a divulgação pública ajuda principalmente os idosos a atingirem mais efetivamente o distanciamento social, o que, por sua vez, salva mais vidas, pelo menos 4 mil, de acordo com nossas projeções”, observaram os autores.
Apesar de a pandemia do novo coronavírus ter afetado tanto a saúde como a economia dos países afetados, pode-se comparar os métodos e resultados obtidos entre eles. Na Coreia do Sul, o impacto levou à queda de 1,4% no PIB real no primeiro trimestre de 2020; na China, 9,8%, devido ao lockdown implementado em muitas partes do país.
Os cientistas concluíram que, na ausência de uma vacina, o distanciamento social direcionado pode ser uma maneira muito mais eficaz de reduzir a transmissão da doença e minimizar o custo econômico de isolamento e lockdown. “Esperamos que haja outras maneiras mais eficazes de atingir o distanciamento social para obter o benefício máximo pelo menor custo”.
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Fontes: Science Daily,