Estudo sugere como covid-19 pode provocar sequela no cérebro

21 de janeiro de 2021 5 mins. de leitura
Testes com camundongos mostraram que covid-19 pode chegar ao cérebro, o que pode explicar perda de olfato e de paladar e outros sintomas

A covid-19, além de pneumonia e dificuldade respiratória aguda, está associada a uma série de sintomas relacionados ao cérebro, o que fez um grupo de cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Washington procurar sequelas provocadas pelo coronavírus no sistema nervoso central.

A inflamação causada pelo Sars-CoV-2 pode estar associada a uma série de consequências, como:

  • perda de paladar e de olfato;
  • dor de cabeça;
  • convulsão;
  • confusão mental;
  • deficiência visual;
  • dor nos nervos;
  • tontura;
  • comprometimento da consciência;
  • náusea e vômito;
  • piora de sintomas respiratórios.

O vírus pode estar relacionado, ainda, a sequelas mais graves, a exemplo de:

  • hemiplegia;
  • ataxia;
  • acidente vascular cerebral (AVC);
  • hemorragia cerebral;
  • encefalite.

Covid-19 no sistema nervoso central

Assim como o vírus de Sars e de HIV, Sars-CoV-2 pode atingir o cérebro. (Fonte: Shutterstock)
Assim como os vírus de Sars e de HIV, Sars-CoV-2 pode atingir o cérebro. (Fonte: Shutterstock)

Os problemas citados podem estar relacionados à entrada do novo coronavírus ou de suas proteínas no sistema nervoso central. A capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica já foi observada no vírus que provocou a epidemia de Sars em 2003, e isso levou cientistas a investigarem em testes pré-clínicos com camundongos se o Sars-CoV-2 ou seus componentes, como a proteína spike, seriam capazes de entrar no sistema nervoso central e provocar inflamações que poderiam explicar uma série de sintomas e sequelas relacionadas à covid-19.

A proteína spike, frequentemente chamada de proteína S1, determina em quais células o vírus pode entrar. Normalmente, o vírus faz a mesma coisa que sua proteína de ligação, segundo o professor da UW William Banks em release da instituição. O especialista explicou que proteínas de ligação como a S1 geralmente causam danos à medida que se separam do vírus e geram inflamação.

Nos círculos científicos, a intensa inflamação causada pela infecção de covid-19 é chamada de tempestade de citocinas. O sistema imunológico, ao ver o vírus e suas proteínas, reage de forma exagerada na tentativa de matar o invasor. Isso explicaria sintomas como névoa cerebral, fadiga e outros problemas cognitivos sentidos por pessoas infectadas.

Banks e sua equipe viram essa reação com o vírus HIV e queriam descobrir se o mesmo estava acontecendo com o coronavírus. A S1 no Sars-CoV-2 e a GP120 no HIV-1 funcionam de forma semelhante, contendo muitos açúcares, que são marcas registradas de proteínas que se ligam a outros receptores e funcionam como braços e mãos para seus vírus, agarrando-se a outros receptores.

Coronavírus no cérebro

Os estudiosos injetaram as proteínas S1 radiomarcadas de forma intravenosa em camundongos e mediram o fluxo de sangue cerebral para verificar se partes do vírus seriam capazes de entrar no sistema nervoso central. Os cientistas também mediram o tempo de exposição e a eliminação da proteína spike do sangue.

Todos os tecidos do corpo dos animais captaram a proteína, mas especialmente fígado e rins, que são responsáveis por eliminar a substância do sistema. No entanto, partes do vírus foram encontradas em todas as porções dos tecidos cerebrais dos camundongos.

Os cientistas também associaram outras substâncias à proteína spike, para verificar se tinham influência na absorção das partes virais no corpo dos animais. A aglutinina de gérmen de trigo aumentou a introdução da S1 no cérebro, no pulmão, no baço e no rim. Já a heparina foi capaz de bloquear parte da proteína do Sars-CoV-2 pelo fígado, mas não teve o mesmo efeito no tecido cerebral.

Sequela cerebral

Perda de olfato pode ser causada por inflamações do coronavírus no tecido cerebral. (Fonte: Shutterstock)
Perda de olfato pode ser causada por inflamações do coronavírus no tecido cerebral. (Fonte: Shutterstock)

O laboratório de Banks estuda a barreira hematoencefálica em Alzheimer, obesidade, diabetes e HIV, mas suspendeu o trabalho, e as 15 pessoas da equipe começaram seus experimentos com a proteína S1 em abril de 2020. Eles recrutaram o colaborador de longa data Jacob Raber, professor dos departamentos de Neurociência Comportamental, Neurologia e Medicina Radiológica, e suas equipes na Universidade de Saúde e Ciência de Oregon.

“Sabemos que, quando você tem a infecção por coronavírus, há dificuldade para respirar porque há infecção no pulmão, mas uma explicação adicional é que o vírus entra nos centros respiratórios do cérebro e causa problemas lá também”, disse Banks. O transporte de S1 é mais rápido no bulbo olfatório e nos rins dos homens do que das mulheres, e essa observação pode estar relacionada ao aumento da suscetibilidade dos homens a desfechos mais graves de infecções por coronavírus.

Banks alerta que “muitos dos efeitos que o vírus da covid-19 tem podem ser acentuados, perpetuados ou mesmo causados pela entrada do vírus no sistema nervoso central e podem durar muito tempo”.

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Fontes: Science Daily, Nature, University of Washington Health Sciences (UW Medicine).

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