Produção de vacina: a flexibilização de processos é correta? - Summit Saúde

Produção de vacina: a flexibilização de processos é correta?

29 de julho de 2020 5 mins. de leitura

Em meio à crise sanitária, a flexibilização deve estar lastreada em critérios científicos

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A produção de uma vacina é um processo que pode demorar anos até a ampla disponibilidade para utilização pela população. No entanto, com a rápida disseminação do coronavírus, cientistas têm acelerado as pesquisas, o que tem requerido uma flexibilização de regras e procedimentos.

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A imunização das populações, porém, pode despertar interesses para além dos científicos e médicos. Uma nova vacina requer altos investimentos em pesquisa, e a iniciativa privada tem como objetivo principal o lucro. Isso gera preocupação quanto à influência dos interesses econômicos na produção de fármacos.

Ao flexibilizar os procedimentos para a produção de vacinas, as autoridades sanitárias precisam priorizar a necessidade urgente da imunização em detrimento do desejo financeiro das empresas – já que a falta ou a maior lentidão de aprovação pode frustrar investidores que dedicaram bilhões de dólares em pesquisa para seu desenvolvimento.

O mercado de vacinas

Vacinas contra coronavírus pode gerar bilhões em receitas para empresas farmacêuticas. (Fonte: Shutterstock)

O mercado mundial de produção de vacinas deve movimentar cerca de US$ 60 bilhões em 2020, quase o dobro do valor gerado em 2014, de acordo com dados da Zion Market Research. Esse número deve ser ainda maior devido à crise sanitária provocada pelo coronavírus, haja vista a concentração de investimentos e esforços em uma vacina contra a covid-19.

Antes da pandemia, o setor já vinha crescendo em virtude do aumento da ocorrência de doenças infecciosas, como influenza, gripe suína, hepatite, tuberculose, difteria, ebola e doenças meningocócicas e pneumocócicas.

A fabricação das vacinas está concentrada nos países desenvolvidos e em poucas empresas farmacêuticas, como GlaxoSmithKline, Merk & Co. e Pfizer. Somente o Prevnar 13 da Pfizer, utilizado na prevenção de doenças invasivas causadas por 13 cepas de streptococcus pneumoniae, gera cerca de US$ 5,7 bilhões de receita nos Estados Unidos.

Funcionamento da vacina

O conceito por trás do funcionamento das vacinas é relativamente simples: injetar uma forma enfraquecida, ou um fragmento, de uma doença em uma pessoa para que o corpo aprenda a produzir anticorpos ou iniciar outros processos de imunidade. Como resultado da imunização, o organismo está pronto para combater a mesma infecção na próxima vez.

Dessa forma, doenças infecciosas que já tiveram altas taxas de mortalidade, como poliomielite e varíola, foram quase erradicadas. Outras, como sarampo e caxumba, estão sob controle. Além disso, epidemias maiores foram evitadas com sucesso. Por isso, encontrar uma vacina contra a covid-19 é maior esperança para pôr fim à pandemia.

Enquanto algumas imunizações duram a vida inteira, outras precisam ser renovadas para permanecerem eficientes. O sucesso das vacinas e seu enorme papel para a saúde pública são garantidos por um rígido processo de produção, com inúmeros procedimentos científicos de segurança, para assegurar a eficácia da imunização.

Processo de produção

Pesquisa em laboratório é a primeira etapa de produção de uma vacina. (Fonte: Shutterstock)

O desenvolvimento de novas vacinas é realizado por meio de um processo que visa garantir a eficácia da imunização, reduzindo os riscos para a saúde humana. Por isso, uma série de etapas devem ser observadas antes da disponibilização das vacinas para o público em geral, o que requer, geralmente, anos de pesquisa até a sua aprovação.

O primeiro passo é a realização de experimentos em laboratório para avaliar as diferentes possibilidades de composição do fármaco. Após identificar a combinação mais eficiente das substâncias, são realizados testes em animais. Caso haja comprovação da eficácia do produto em animais, a pesquisa pode passar a fazer testes clínicos com humanos.

Os experimentos clínicos com pessoas começam de uma forma mais restrita, com grupos de 20 a 80 indivíduos saudáveis. Na segunda fase dos testes com humanos, o grupo de avaliação é ampliado, para obter dados que comprovem a eficácia e a segurança da vacina. Após essas duas fases, uma última etapa com milhares de pessoas ainda é necessária antes da liberação para o público em geral.

Flexibilização

Em crises anteriores, como a de ebola no início da década e o surto de poliomielite nos EUA nos anos 1960, algumas das etapas de produção das vacinas foram ignoradas e propiciaram um desenvolvimento eficaz mais acelerado. Geralmente, testes em animais ou as primeiras fases de testes com humanos não foram realizados.

Entretanto, em outros casos a desconsideração de etapas de produção desencadeou resultados negativos. O principal exemplo é a experiência contra a gripe suína, em 1976, que acabou gerando casos de síndrome Guillain-Barré, uma patologia neurológica rara.

O desenvolvimento apressado de uma vacina pode provocar consequências indesejadas, incluindo respostas imunológicas violentas, processos de sintomas leves ou graves e até levar os pacientes a óbito. Dessa forma, desconsiderar as etapas de produção segura da imunização pode levar a uma catástrofe maior no sistema de saúde que a própria pandemia.

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Fontes: Organização Mundial de Saúde (OMS), Statista e Summit Saúde.

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