Turismo da vacina: o que é e por que se trata de um dilema ético?

17 de junho de 2021 4 mins. de leitura
Entenda por que as viagens para conseguir vacina causam preocupação ética e acentuam desigualdades

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Enquanto alguns países já imunizaram quase toda a população, o resto do mundo segue em ritmo bastante lento. A desigualdade salta aos olhos e demonstra como o lobby político e financeiro dos grandes países e das maiores farmacêuticas do mundo são maiores do que a governança das Nações Unidas e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Diante da abundância desigual e até do excedente de vacinas em lugares como os Estados Unidos e o Reino Unido, tem surgido um comércio atípico: o turismo para a imunização. 

Se no início da pandemia os aeroportos foram fechados abruptamente, já que foram eles os vetores do Sars-CoV-2, agora recebem pessoas de diversas regiões que desejam ir aos centros com mais imunizantes e voltar aos seus países de origem vacinados.

Como funciona o turismo da vacina?

Preço de uma viagem internacional de 60 dias expõe a desigualdade no acesso à vacina no exterior. (Fonte: Evgenia Parajanian/Shutterstock)
Preço de uma viagem internacional de 60 dias expõe a desigualdade no acesso à vacina no exterior. (Fonte: Evgenia Parajanian/Shutterstock)

Após ter imunizado a maior parte de sua população, os Estados Unidos estão abrindo suas fronteiras para estimular o comércio local, o que inclui um combo de duas doses de vacina por 45 dias de turismo. Quem cumprir esse itinerário poderá frequentar os parques do estado já sem máscara.

Como o Brasil está com a “ficha suja” no exterior em razão dos números alarmantes de infectados e mortos pela covid-19 (cerca de 450 mil óbitos em pouco mais de um ano de pandemia), a viagem ganha mais 15 dias, em geral no México, para ter a entrada liberada nos Estados Unidos.

Ao se considerar o custo médio com voos, hospedagem, seguro-saúde, visto, alimentação e outros gastos, sobretudo diante da desvalorização do real, pode-se inferir que o acesso à vacina custa caro. 

No Brasil ou no exterior, é ético comprar vacinas?

O Senado Federal brasileiro tem pela frente uma série de decisões fundamentais no enfrentamento ao novo coronavírus. (Fonte: Edusma7256/Shutterstock)
O Senado Federal brasileiro tem pela frente uma série de decisões fundamentais no enfrentamento ao novo coronavírus. (Fonte: Edusma7256/Shutterstock)

Em abril de 2021, a Câmara Federal aprovou o texto-base do Projeto de Lei n° 948, que prevê a possibilidade de empresas e organizações não governamentais adquirirem vacinas de forma autônoma. 

O texto seguiu para o Senado Federal, onde aguarda há quase 60 dias para ser apreciado (os senadores estão absorvidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito que analisa eventuais falhas do Executivo diante da pandemia). 

Apesar de ser aprovado com folga dentro da Câmara (317 a 120), a iniciativa gerou polêmica em relação à possibilidade de a imunização depender do poder financeiro de entidades privadas, sobretudo porque não há oferta abundante ou bem-distribuída no mercado. Isso tornaria a aquisição diferente de outras vacinas comumente adquiridas por empresas, como a do vírus influenza (da gripe comum).

Segundo uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, divulgada em uma nota técnica da Fundação Oswaldo Cruz de abril deste ano, 32,4% dos respondentes apontaram que se vacinar é “uma escolha individual e, nesse sentido, toma vacina quem quiser”. Em outras palavras, a questão está longe de ser um consenso. 

Sem uma política internacional que regule a vacinação com regras nítidas de produção, distribuição e acesso por critérios técnicos, não só países, estados e municípios, mas também empresas e pessoas procurarão saídas individuais para esse problema comum.  

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Fonte: Hypeness, Agência Câmara de Notícias, Você SA, Fiocruz.

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