O que sabemos sobre as novas vacinas contra a tuberculose?

30 de maio de 2023 4 mins. de leitura
Apesar da vacina BCG, a tuberculose ainda provoca 1,6 milhão de mortes por ano em todo o mundo, por isso a OMS procura novos imunizantes para a doença

A tuberculose causa 10 milhões de novos casos e 1,6 milhão de óbitos por ano em todo o mundo, sendo uma das principais doenças transmissíveis que acomete os pulmões. Há mais de um século, a vacina Bacilo de Calmette-Guérin (BCG) foi desenvolvida e é o principal instrumento de prevenção da disseminação da patologia.

O imunizante, que é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), deve ser tomado em dose única por crianças a partir do nascimento até os 4 anos. O fármaco tem eficácia comprovada contra a meningite tuberculosa e a tuberculose miliar, contudo não protege contra a tuberculose pulmonar adulta.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) pretende reduzir o número de casos em até 80% até 2030, enquanto espera que as mortes caiam 90%. Para tanto, estimula esforços de pesquisa para o desenvolvimento de novos imunizantes com diferentes técnicas. Atualmente, mais de dez fármacos estão em estudos clínicos no mundo.

Conheça as principais vacinas que estão sendo desenvolvidas contra a tuberculose e como elas funcionam.

1. CRISPR/Cas9

Apesar do avanço nas pesquisas, BCG recombinante ainda não gera proteção contra tuberculose em adultos. (Fonte: Instituto Butantan/Divulgação)
Apesar do avanço nas pesquisas, BCG recombinante ainda não gera proteção contra tuberculose adulta. (Fonte: Instituto Butantan/Divulgação)

O Instituto Butantan conduz diferentes pesquisas que visam otimizar a vacina BCG, além de estudar maneiras de modernizar a produção. Um das técnicas mais avançadas é da CRISPR/Cas9, fabricada a partir da produção de um adjuvante na BCG original, que é um fragmento detoxificado da toxina LT da bactéria E. coli, denominado LTAK63.

Para conseguir expressar o adjuvante sem usar o gene indesejado, o novo estudo utilizou a técnica de edição gênica na BCG, deletando do genoma o gene lysA e introduzindo o gene lysA no vetor com LT.

Um estudo pré-clínico publicado na revista Frontiers in Immunology indica que o imunizante protege mais do que a vacina tradicional. Os modelos animais que receberam o fármaco e foram posteriormente infectados apresentaram cinco vezes menos bactérias no pulmão e melhora na função pulmonar em comparação aos vacinados com a BCG original.

Leia também:

2. M72/AS01E

(GettyImages/Reprodução)
OMS foca pesquisas de novos imunizantes no continente africano. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

A M72/AS01E é uma vacina candidata para tuberculose desenvolvida pela GlaxoSmithKline em parceria com a Aeras, uma organização sem fins lucrativos apoiada pela Fundação Bill e Melinda Gates.

A imunização consiste em uma proteína de fusão imunogênica derivada de dois antígenos da bactéria Mycobacterium tuberculosis (M.tb) e o AS01E, um adjuvante que tem como função aumentar a resposta imunológica do corpo ao imunizante.

Um estudo multicêntrico, duplo-cego, randomizado com 3.573 adultos na África do Sul, no Quênia e em Zâmbia apontou que a administração de duas doses do imunizante reduziu o desenvolvimento de tuberculose ativa em 50% em adultos com infecção latente pela doença durante um período de acompanhamento de três anos.

3. ID93 + GLA-SE

A vacina candidata ID93 + GLA-SE pode vencer um dos principais obstáculos para a aplicação da BCG nas áreas que são mais afetadas pela tuberculose. O imunizante tradicional é sensível à temperatura, com o princípio ativo sendo facilmente destruído pelo sol. Já o novo fármaco pode ser liofilizado e armazenado com segurança em temperaturas de 37°C por três meses.

A estratégia de imunização usa a proteína ID93, que contém antígenos de quatro proteínas específicas da bactéria que causa a tuberculose, para estimular o sistema imunológico a produzir uma resposta imune específica que é impulsionada pelo adjuvante GLA-SE.

Um estudo publicado na Nature Communications mostrou que a aplicação de duas doses em 45 adultos saudáveis gerou níveis mais altos de anticorpos no sangue do que o imunizante BCG. O produto é desenvolvido pelo estadunidense Instituto de Pesquisa de Doenças Infecciosas (Idri) em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e a brasileira GSK Vaccines.

Fonte: Instituto Butantan, Frontiers in Immunology

Organização Mundial da Saúde (OMS), Nature Communications, The New England Journal of Medicine, Ministério da Saúde

171090cookie-checkO que sabemos sobre as novas vacinas contra a tuberculose?