Parteiras precisavam de licença oficial para auxiliar gestantes no parto, mas procedimentos informais ainda prevaleciam
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A taxa de cesarianas no Brasil ultrapassa o número de partos normais, de acordo com dados da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). No entanto, nem sempre foi assim; houve um tempo em que as parteiras eram as principais responsáveis por acompanhar as mulheres durante a gestação até o nascimento da criança.
Entre 1990 e 2014, a proporção de cesáreas subiu de 22,8% para 42,2% na América Latina e no Caribe, segundo um estudo publicado na PLOS ONE por pesquisadores ligados à Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, as taxas chegam a 55,6%, sendo consideradas entre as mais altas do mundo, ao lado da República Dominicana.
No entanto, a preocupação com a “epidemia” do procedimento cirúrgico no parto e o debate sobre a humanização da saúde têm resgatado a tradição das parteiras. A função, que era bastante comum no século 19, vem sendo revalorizada e está contemplada dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) e em algumas redes privadas.
Conforme ampla revisão de literatura publicada por pesquisadores brasileiros na Enfermería Global, as parteiras costumam se enquadrar nos seguintes critérios:
A função era considerada um “dom divino”, sendo desempenhada com habilidade e sabedoria. Elas eram lideranças reconhecidas pela comunidade por causa da vasta experiência no acompanhamento da gravidez, na realização de parto domiciliar e na assistência pós-parto, conhecida também como “resguardo”. Apesar da importância, em sua maioria, eram pobres e recebiam pouquíssimo pelo trabalho realizado.
Na última metade do século 19, as parteiras foram incorporadas ao sistema médico. Uma licença autorizava-as a realizar os partos, contudo, a prática informal continuava sendo disseminada. Mesmo com a chegada de novas tecnologias nas principais capitais do Brasil durante o século 20, a função permaneceu relevante nas cidades do interior.
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As parteiras ficavam por dias na residência da paciente rezando, cantando e auxiliando nas tarefas domésticas, enquanto esperavam a hora do parto. Elas eram responsáveis por preparar plantas medicinais que eram utilizadas para reduzir o desconforto e o sofrimento das parturientes.
Na preparação do parto, as profissionais usavam luvas, lavavam as mãos e alguns materiais de procedimento eram fervidos e colocados no álcool. Um cuidado especial era dado ao umbigo do bebê, para que não houvesse infecção.
Após auxiliar no trabalho de partos, as parteiras continuavam na casa da mulher até cair o coto umbilical do recém-nascido, auxiliando na recuperação das parturientes por meio de alimentação adequada voltada à produção de leite. Havia preocupação também com a saúde da mulher para prevenir complicações pós-parto.
A OMS declarou 2020 como o Ano Internacional dos Enfermeiros e das Parteiras para estimular os investimentos nas duas profissões. A entidade alerta que mais de 9 milhões de enfermeiros e parteiras serão necessários até 2030 para o mundo atingir a cobertura universal de saúde.
De acordo com o material Situação Mundial da Obstetrícia, realizado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), o investimento e o apoio de parteiras evitariam 67% das mortes maternas, 64% das mortes de recém-nascidos e 65% dos casos de bebês natimortos, salvando cerca de 4,3 milhões de vidas por ano.
Além de realizar partos e cuidados durante e após a gestação, as parteiras são capazes de oferecer serviços relacionados à saúde sexual, reprodutiva e de defesa do cuidado humanizado e dos direitos das mulheres.
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Fontes: O parto realizado por parteiras: uma revisão integrativa. The Increasing Trend in Caesarean Section Rates: Global, Regional and National Estimates: 1990-2014. Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Organização das Nações Unidas (ONU), Situação Mundial da Obtestrícia/Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA)