Controle emocional pode prevenir envelhecimento patológico

23 de março de 2023 5 mins. de leitura
O termo “envelhecimento patológico” é usado para definir casos em que há prejuízos significativos em áreas básicas e instrumentais da vida de idosos

Durante os últimos 20 anos, neurocientistas da Universidade de Genebra (Unige), na Suíça, têm observado como o cérebro reage às emoções, a fim de entender o que acontece quando há a percepção de um estímulo emocional. Mais do que isso, os pesquisadores buscam saber o que acontece depois desse estímulo, ou seja, qual é o impacto da ação no cérebro.

Acredita-se que emoções negativas podem promover doenças neurodegenerativas e demência. Foi a partir dessa premissa que os condutores do estudo levantaram outras questões. Como o cérebro muda de uma emoção para outra? A variabilidade emocional é alterada com a idade? Qual é a consequência para o cérebro da ausência de controle emocional?

Diante desses questionamentos, foi realizado um estudo, publicado na revista Nature Aging, para determinar qual traço cerebral se altera após certas exposições emocionais, a fim de avaliar as reações e, principalmente, os mecanismos de recuperação do cérebro.

Para isso, os neurocientistas da Unige observaram a ativação cerebral em jovens e idosos quando confrontados com o sofrimento de outras pessoas. A pesquisa faz parte de um estudo europeu (MEDIT-AGEING) que busca avaliar o uso de intervenções não farmacológicas como forma de prevenir o envelhecimento patológico e promover uma velhice mais ativa e saudável.

Gerenciamento emocional é um dos passos para uma velhice sem limitações impostas por doenças neurodegenerativas como a demência. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Cérebros funcionam de maneira diferente

Em um primeiro momento, os cientistas compararam um grupo de 27 pessoas com mais de 65 anos e um grupo de 29 pessoas com idade média de 25 anos. Eles mostraram aos participantes vídeos retratando pessoas em sofrimento emocional e com conteúdo emocional neutro, analisando a atividade cerebral por meio de ressonância magnética. Na sequência, o mesmo experimento foi feito com novos grupos contendo mais de 120 idosos.

Observou-se, então, que as pessoas mais velhas têm um padrão de atividade cerebral diferente das mais jovens. As conexões neuronais de idosos tendem a seguir uma inércia emocional, ou seja, as emoções modificam as conexões cerebrais por um longo período, especialmente as que ocorrem no córtex cingulado posterior e na amígdala cerebral.

Essas duas regiões do cérebro estão fortemente envolvidas no gerenciamento de emoções e na memória autobiográfica. Dessa forma, quando idosos são expostos a emoções negativas, tendem a reviver essa sensação por muito mais tempo do que os mais jovens.

O resultado dessa resposta do cérebro pode ser o aumento de casos de doenças como depressão em idosos, bem como envelhecimento patológico de maneira geral.

Inércia emocional (ou congelamento das emoções) pode ser gatilho para desenvolvimento de doenças mentais e neurológicas em idosos. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

O envelhecimento está mais associado à empatia?

Sim. Embora pessoas mais velhas tenham tendência a controlar menos as emoções do que as mais jovens, idosos apresentam maior empatia em relação ao sofrimento, porque esse grupo de pessoas se concentra mais facilmente em detalhes positivos, mesmo durante eventos negativos. Dessa forma, é mais fácil desenvolverem níveis empáticos ideais.

A atividade cerebral pode ser alterada

Visto que o normal é que idosos apresentem maior foco em coisas positivas, os pesquisadores do estudo da Unige destacam que, quando essas pessoas sofrem altos níveis de ansiedade, ruminação e emoções negativas, estão se desviando do que é natural.

Isso ocorre devido às mudanças na conectividade entre o córtex cingulado posterior e a amígdala cerebral, dificultando o processamento correto de emoções e memórias. Essas regiões são também as mais afetadas pela demência, o que sugere que a presença de alterações nessas áreas pode aumentar o risco de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas.

No entanto, os condutores do estudo reforçam que são necessárias mais análises para que seja possível entender se é a má regulação emocional que aumenta o risco de demência ou o contrário. Os neurocientistas também indicam que, em novas análises, devem continuar a investigar a inércia emocional, pois entendem que o “congelamento” em um estado negativo pode ser determinante para o surgimento de novos problemas, uma vez que isso leva idosos a fazerem uma associação do sofrimento alheio com as próprias memórias emocionais.

Assim, a busca por novos dados é também a busca por um envelhecimento mais saudável.

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Fonte: Science Daily

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