Envelhecimento: é possível conhecer a idade máxima para humanos?

2 de abril de 2022 4 mins. de leitura
Arte e Filosofia debatem a mortalidade há séculos, mas é a Ciência que tem procurado desvendar se há ou não um limite para o envelhecimento

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O envelhecimento é uma questão que há décadas mobiliza os cientistas e não há até hoje um consenso a respeito. O impasse mora sobretudo na dificuldade de coletar dados: a confiabilidade dos relatos e a fronteira entre genética e os fatores ambientais continuam sendo desafios para as pesquisas.

Saiba mais do debate que anima estudiosos do tema e confira se, afinal, é possível sondar um limite de idade para a vida humana.

Entenda o que dizem os estudos sobre o envelhecimento

Uma das hipóteses dos cientistas é que, a cada geração, as pessoas vivam mais, sendo impossível prever o limite do envelhecimento. (Fonte: FotoluminateLCC/Shutterstock/Reprodução)
Uma das hipóteses dos cientistas é que, a cada geração, as pessoas vivam mais, sendo impossível prever o limite do envelhecimento. (Fonte: FotoluminateLCC/Shutterstock/Reprodução)

De modo geral, os cientistas reconhecem que a capacidade de controlar o ambiente e os avanços na área da Saúde tem aumentado a longevidade humana, mas os consensos acabam aí: existir ou não uma faixa etária máxima para a vida humana continua sendo uma polêmica.

Os acadêmicos que procuram encontrar um limite razoável se baseiam nos dados disponíveis para mapear esse parâmetro. Na década de 1990, por exemplo, dois pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia concluíram que uma nota de corte razoável seria justamente os 120 anos.

Caleb Finch e Malcolm Pike usaram métodos matemáticos e, segundo o mapeamento dos cientistas, apenas uma mulher francesa havia ultrapassado essa marca: Jeanne Calment chegou aos 122 anos.

Outro estudo, publicado em 2016 e partir de um projeto da Escola Superior de Medicina Albert Einstein (Nova York), tem uma conclusão semelhante. O limite encontrado nesse caso foi o de 125 anos.

Em duas décadas, o limite etário ficou 5 anos maior, mas novamente pairam dúvidas: a expectativa de vida aumentou ou isso pode ocorrer em razão do recorte do estudo? A incerteza na conclusão leva a outras interpretações. Se, com o passar do tempo, o teto de idade aumenta pouco a pouco, pode ser plausível que essa curva continue crescendo e não seja possível prevê-la com exatidão.

James Vaupel, da Universidade do Sul da Dinamarca, está entre os cientistas que se questionam nesse sentido. Ele concluiu que os suecos e os japoneses tiveram um aumento médio na longevidade de três meses a cada ano, desde 1840, e padrões como esse podem continuar ocorrendo, tornando a idade máxima da vida humana cada vez mais elástica.

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Conheça alguns desafios da pesquisa acadêmica

A confiabilidade dos documentos de nascimento são um problema para a validação das pesquisas. (Fonte: Hareluya/Shutterstock/Reprodução)
A confiabilidade dos documentos de nascimento são um problema para a validação das pesquisas. (Fonte: Hareluya/Shutterstock/Reprodução)

Existem diferentes razões para o impasse continuar. O primeiro deles é a incerteza na coleta de dados. A amostragem pode ser insuficiente e, além de escassas, as informações se demonstram imprecisas, sobretudo por causa de erros nas certidões de nascimento e nas histórias de vida.

Nesse sentido, o matemático e economista Nikolay Zak parece ter descoberto uma lacuna tão importante quanto bizarra. Segundo ele, a filha de Jeanne Calment teria roubado sua identidade para fazer o recorde “sobreviver” e assim ganhar fama. Mas, novamente, há cientistas que discordam, como Jean-Marie Robine, do Instituto de Pesquisa Biomédica da França.

Para tornar o nó ainda mais emaranhado, as pesquisas se deparam com desafios mesmo quando elas têm dados suficientes e nenhum problema de ordem ética. Diante do envelhecimento, na Ciência há o desafio de entender quais são as causas, para então poder compreender mais o fenômeno.

Nem sempre é fácil operar essa distinção. Um exemplo é que todas as pesquisas mencionadas investigaram a idade dos óbitos em países ricos. Uma pesquisa com pretensão de generalização precisa considerar a experiência de envelhecer na periferia do mundo, onde as políticas de proteção social e as tecnologias em saúde costumam ser mais precárias.

Até onde vai a genética? Como o ambiente interfere? Há interações possíveis entre esses fatores – como a epigenética — tornando a questão ainda mais complexa?

Essas reflexões estão em aberto e devem guiar os estudos sobre o teto etário da vida humana. Vida longa à Ciência, que ainda tem muito a desvendar sobre a realidade.

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Fonte: Nature.

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