Estudo aponta redução dos recursos para pesquisa sobre DTNs, que têm alta incidência nas populações com menor acesso a saneamento e cuidados básicos de saúde
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou, em janeiro de 2021, um planejamento para combater as doenças tropicais negligenciadas (DTNs), com meta de reduzir em 90%, no período de dez anos, o número de pessoas que necessitam de tratamento. Naquele ano, 1,65 bilhão precisaram de cuidados em 179 países e territórios. Dois anos depois, um relatório da OMS aponta perdas nessa projeção e a imprescindibilidade de investimentos para reverter o problema, agravado com a pandemia de covid-19.
As DTNs atingem principalmente populações com menor acesso a saneamento, água potável e cuidados básicos de saúde, em locais onde são consideradas endêmicas. São 20 doenças prevalentes classificadas pela OMS, provocadas por vírus, bactérias, parasitas, fungos e toxinas; entre elas estão dengue, leishmaniose, hanseníase, esquistossomose, doença de Chagas, zika e chikungunya.
No Brasil, de acordo com um levantamento recentemente publicado na revista científica PLOS Neglected Tropical Disease, dedicada aos temas relativos a essas enfermidades, houve significativa redução de investimentos públicos em pesquisas nas duas últimas décadas.
O estudo, que contou com a participação de representantes do Ministério da Saúde (MS), do Hospital do Coração, em São Paulo, e da Universidade de Brasília (UnB), mostrou que, de 2004 a 2020, o País destinou, para 1.158 projetos de pesquisa, cerca de US$ 230,9 milhões, dos quais 69,8% por meio do MS e o restante, via parceiros estaduais, nacionais e internacionais.
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Os cortes orçamentários ocorreram principalmente em mudanças de governo, ampliando-se na pandemia. Em 2020, a redução foi de 73% em relação a 2019. Em 2018, o Brasil ficou na terceira colocação em investimentos entre os países de baixa e média renda; no entanto, comparativamente aos Estados Unidos, nação que mais destina recursos no mundo para essas pesquisas, o montante foi 148 vezes menor.
Das pesquisas realizadas no período levantado, a maior parte foi voltada à dengue, tuberculose e leishmaniose, enquanto os estudos sobre outras doenças prevalentes no Brasil, como malária e chikungunya, receberam menos recursos, mesmo registrando aumento no número de casos.
Segundo o Ministério da Saúde, as notificações de chikungunya cresceram, até março deste ano, 97% em relação ao mesmo período de 2022, com maior incidência na Região Sudeste, que soma 34,3 casos por 100 mil habitantes.
Já os registros de dengue tiveram aumento de 43,8%, com 141,5 por 100 mil habitantes, o que provocou a instalação de um Centro de Operações de Emergências pelo MS, cuja missão é planejar, de forma conjunta com Estados e municípios, ações de diagnóstico e combate.
As doenças tropicais negligenciadas provocam condições que afetam a vida das pessoas, como incapacitação e outras limitações, que podem exigir cuidados permanentes, com consequências também sociais e econômicas.
Os impactos da redução de investimentos em pesquisas científicas, somados ao pouco interesse da indústria farmacêutica na produção de medicamentos, podem ser difíceis de calcular.
Em seu relatório mais recente, a OMS alertou, portanto, que os governos, em especial dos países mais atingidos, devem voltar sua atenção para essas enfermidades, destacando a importância de destinar um volume maior de recursos e ampliar o apoio para o combate.
Fontes: PLOS, ONU, Opas, Agência Brasil, Ministério da Saúde