Novo tratamento contra HIV: mulher é considerada curada nos EUA

23 de maio de 2023 4 mins. de leitura
Pela primeira vez, uma mulher conseguiu remissão do vírus do HIV; conheça a terapia inovadora

Um tratamento para a leucemia pode ter curado uma mulher da síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) pela primeira vez, de acordo com artigo científico publicado na Cell. Um transplante de células-tronco do sangue do cordão umbilical possibilitou a remissão do HIV da paciente, que é mestiça, tem meia-idade e mora em Nova York.

A técnica se mostrou uma inovação importante para a ampliação do tratamento da doença para um grupo mais diverso. A compatibilidade de doadores de células-tronco para pacientes por etnia é um desafio. Isso, porque a mutação genética que oferece a resistência ao vírus é muito rara, especialmente entre as pessoas que não são brancas.

No entanto, a abordagem que utiliza as células-tronco presentes no sangue do cordão umbilical não precisa de uma correspondência tão exata em comparação às células adultas. Além disso, o procedimento se torna mais acessível, pois as estruturas celulares do tubo que conecta o bebê à placenta são muito mais disponíveis.

Por que alguns pacientes conseguem entrar em remissão do HIV?

(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Mutação genética que inibe infecções de células por HIV foi descoberta na década de 1990 e já contribuiu para a remissão de quatro pacientes. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Até o momento, existem relatos de quatro pacientes considerados “curados” do HIV. Ou seja, suspenderam o tratamento com antirretrovirais durante cerca de dois anos, e o vírus não retornou para o organismo, considerado em remissão. Em todos os casos, houve um transplante de medula com células-tronco.

Os cientistas acreditam que uma mutação na proteína CCR5-delta 32, presente em cerca de 1% da população europeia, pode inibir a replicação do HIV. A alteração genética está presente na membrana dos linfócitos T auxiliares CD4+ e impede que a maioria das cepas do vírus se conectem às células, evitando a infecção.

Essa mutação genética surgiu há 1,2 mil anos no norte da Europa, disseminada pela população Viking. As constantes epidemias no continente realizaram, ao longo dos séculos, uma seleção dos indivíduos resistentes às infecções, ampliando a incidência da alteração do gene entre a população.

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Pesquisa de vacina contra Aids

O desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o HIV deve demorar entre três a cinco anos. (Fonte: GettyImages/Reprodução)
O desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o HIV deve demorar entre três e cinco anos. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

O isolamento e a replicação da proteína CCR5-delta 32 renovam a esperança de encontrar um tratamento eficaz contra a Aids enquanto uma vacina não é desenvolvida. Nas últimas quatro décadas, dezenas de candidatos a imunizantes buscaram estimular a formação de anticorpos contra o HIV, mas as pesquisas foram frustradas por falta de comprovação científica.

Até o momento, apenas nove testes de candidatos a vacinas foram aplicados em larga escala em todo o mundo. Recentemente, o laboratório Janssen interrompeu seu projeto de testes em 3,9 mil pessoas com as vacinas do projeto Mosaico, devido à falta de resultados satisfatórios. Contudo, cientistas franceses realizaram testes promissores para uma vacina contra o HIV.

A nova abordagem usa as células dendríticas, responsáveis pela ativação do sistema imunológico. Um vetor de anticorpo monoclonal chamado “anti-CD40” se liga a um receptor de proteína para impedir a infecção da célula. Os resultados de testes com 36 pacientes foram promissores, e uma segunda fase de experimentos deve ser realizada.

Fonte: Forbes, Cell, Interfisio, PNAS Nexus, Estadão, Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Frontiers Immunology, The Journal of Immunology

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