Pesquisa indica que covid-19 teria ação nas células epiteliais no sangue
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Um estudo publicado na revista científica The Lancet divulgou novas evidências de que o novo coronavírus possa ser uma doença dos vasos sanguíneos. Na história da medicina, nunca existiu histórico de alguma doença respiratória que fosse capaz de migrar para outras partes do corpo além dos pulmões — haja vista os casos das epidemias de SARS, em 2003, e H1N1, em 2009.
Apesar de os efeitos mais comuns da covid-19 estarem relacionados a doenças pulmonares, como tosse e dificuldade de respiração, a doença já se mostrou capaz de causar problemas no trato digestivo, coagulação sanguínea, enfartes, confusão mental e lesões na pele.
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O artigo liderado pela pesquisadora Zsuzsanna Varga, do Departamento de Patologia e Patologia Molecular do Hospital Universitário de Zurique, na Suíça, pode servir como um passo importante para a compreensão do Sars-CoV-2. Ao caracterizar o coronavírus como um vírus vasculotrópico, é possível rastrear os reais efeitos causados por ele no nosso organismo.
Um dos motivos que indicariam que o novo coronavírus possa causar doença nos vasos sanguíneos, e não respiratória, é seu interesse particular pelas células endoteliais. Essas são as células responsáveis por interligar o sistema circulatório e proteger o coração — impedindo a coagulação do sangue e fazendo com que ele flua corretamente.
A comprovação do Sars-CoV-2 como um vírus de efeito no sistema vascular pode esclarecer à comunidade médica os motivos de pacientes com pressão sanguínea elevada, diabetes e doenças cardíacas fazerem parte dos chamados “grupos de risco”.
Os dados apresentados pelo documento apontam para lesões nas células endoteliais em diversas regiões do corpo humano. Além do impacto nos pulmões, os pacientes de covid-19 estudados pela equipe apresentaram danos em coração, rins, fígado e intestinos.
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De acordo com Mandeep Mehra, diretor médico fundador do Brigham Heart and Vascular Center em Boston e um dos autores do artigo, o vírus tem início no sistema respiratório, onde destrói o tecido dos pulmões e causa hemorragias nos vasos sanguíneos.
O sangramento inicia uma proliferação do vírus pelas células endoteliais, gerando uma resposta imunossupressora do organismo, o que causa uma inflamação do endotélio — a camada celular que reveste internamente os vasos sanguíneos e linfáticos.
Vírus como os do ebola e da dengue também são capazes de afetar as células endoteliais do corpo humano, mas possuem grande distinção dos vírus tradicionais que acometem o sistema respiratório.
Portanto, existe um fator específico que pode servir como um indicador para diferenciar o Sars-CoV-2 do vírus semelhante que causou a epidemia de Sars: uma proteína extra. Segundo um artigo publicado na revista Nature, as proteínas ACE2 e TMPRSS2, encontradas no nariz, podem servir como portas de entrada para o vírus.
Tanto o vírus Sars quanto o Sars-CoV-2 precisam da proteína ACE2 para liberar o conteúdo genético do vírus no organismo e iniciar o processo de infecção. Entretanto, apenas o segundo requer uma proteína que está presente em células de diversas partes do corpo, especialmente as células endoteliais.
A análise de dados da China, publicada no Journal of the American Heart Association, constatou que 40% das mortes por covid-19 tiveram ligação com complicações cardiovasculares. Ao relacionar a doença aos vasos sanguíneos, surge a necessidade de buscar novos tratamentos.
Os primeiros estudos apontavam para uma “tempestade de citocinas” como fator responsável pela reação exagerada do sistema imunológico ao vírus. Esse processo ocorre em outras doenças respiratórias, como em casos severos de pneumonia, o que poderia explicar a coagulação do sangue e os problemas cardíacos.
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Nos casos de doenças respiratórias, o tratamento recomendado aos pacientes são as terapias antivirais — que não surtiriam efeito caso a ligação do vírus com os vasos sanguíneos seja comprovada. Os tratamentos para doenças vasculares envolvem medicamentos existentes que atuam na proteção das células endoteliais.
Analisando os dados do New England Journal of Medicine sobre 9 mil pacientes com covid-19, os cientistas descobriram remédios que podem ser mais efetivos no combate à doença.
A utilização de estatinas, aplicadas na prevenção da aterosclerose, e inibidores de ACE se apresenta ligada a uma maior taxa de sobrevivência. Os dois medicamentos se mostraram eficientes na prevenção da disfunção vascular; portanto, poderiam atuar como estabilizadores do endotélio vascular.
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Fonte: Elemental, NEJM, The Mighty, The Lancet, Journal of the American Heart Association.