Luta contra hepatite C ganha Nobel de Fisiologia em 2020

22 de outubro de 2020 5 mins. de leitura
Descoberta do vírus da hepatite C possibilitou o diagnóstico por teste sanguíneo e a criação de novos medicamentos

A Assembleia Nobel do Instituto Karolinska decidiu conceder o prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2020 para os cientistas Harvey J. Alter, Michael Houghton e Charles M. Rice, responsáveis pela descoberta do vírus da hepatite C.

A contribuição do grupo aparece como um marco na luta contra um grande problema global causador de doenças, como a cirrose e o câncer no fígado. Antes do trabalho feito por Alter, Houghton e Rice, as descobertas dos vírus das hepatites A e C sedimentaram o terreno para o avanço científico.

Apesar do maior número de casos de hepatite nascida no sangue continuar sendo uma incógnita, a equipe conseguiu progredir em direção ao entendimento da causa dos casos crônicos da doença.

A ameaça global da hepatite 

Descoberta do vírus da hepatite C permitiu a criação dos testes de sangue. (Fonte: Shutterstock)
Descoberta do vírus da hepatite C permitiu a criação dos testes de sangue. (Fonte: Shutterstock)

A hepatite é uma doença causadora de uma severa inflamação no fígado, geralmente decorrente de uma infecção viral. Entretanto, o consumo abusivo de álcool, contato com pesticidas e doenças autoimunes também atuam como facilitadores para a enfermidade.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas no ano de 2016, as hepatites virais (A, B, C, D e E) foram responsáveis pela morte de 1,4 milhão de pessoas no mundo todo. Na época, os números foram superiores a outras comorbidades, como a malária, a tuberculose e a aids.

A hepatite também é conhecida como uma doença silenciosa, visto que um indivíduo pode contraí-la e não manifestar sinais sérios até o agravamento do quadro clínico. De todos os infectados pela hepatite C, 20% se curam espontaneamente e 80% desenvolvem uma infecção crônica que pode demorar 20 anos para ser visível.

Processo de identificação do vírus

Hepatite pode ser caracterizada pelo processo de inflamação do fígado. (Fonte: Shutterstock)
Hepatite pode ser caracterizada pelo processo de inflamação do fígado. (Fonte: Shutterstock)

O ano de 1940 foi marcado pela primeira vez em que uma hepatite infecciosa foi divida por dois meios distintos de infecção: água e alimentos contaminados ou sangue e fluídos corporais. Posteriormente, a Ciência progrediria para uma série de estudos sobre a doença.

A metodologia utilizada para a identificação do agente causador da hepatite C foi inspirada na técnica criada nos anos de 1960 por Baruch Blumberg, que descobriu o vírus o qual seria chamado de vírus da hepatite B e receberia o prêmio Nobel pelo seu trabalho em 1976.

Nesse meio tempo, Harvey J. Alter trabalhava no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos estudando casos de hepatite em pacientes que receberam transfusões de sangue, mas não se associavam nem com a hepatite A nem B.

Preocupado com a “infecção misteriosa”, Alter e seus colegas então descobriram que esse tipo de hepatite criada no sangue poderia ser transmitida de humanos para chimpanzés por meio de um processo infeccioso muito similar a de um vírus.

Michael Houghton, enquanto estava trabalhando na farmacêutica Chiron, assumiu a árdua responsabilidade de identificar a sequência genética do agente maléfico. Os experimentos demonstraram que o vírus era proveniente da família Flavivirus e, então, foi quando recebeu a alcunha de vírus da hepatite C.

Por fim, Charles M. Rice, um pesquisador na Universidade de Washington, foi quem conseguiu as respostas para a dúvida se o vírus conseguiria causar a hepatite por conta própria. Através da engenharia genética, Rice conseguiu reproduzir o RNA do vírus e observar sua replicação no fígado humano, comprovando sua capacidade de gerar a doença autonomamente. 

Hepatite no Brasil

O Ministério da Saúde pretende abolir a hepatite C do território brasileiro até o ano de 2030. Com 700 mil casos da doença no país, o governo entende que o surgimento de novas medicinas tem acelerado o processo de tratamento e elevado a taxa de cura para 90% dos casos.

Antigamente, os antivirais utilizados no combate ao vírus possuíam taxas de sucesso próximas a 50%, geravam muitos efeitos colaterais e mantinham riscos da infecção voltar assim que o tratamento, que durava cerca de 1 ano, fosse interrompido.

Os novos antivirais de ação direta (DDAs), mesmo se usados sozinhos ou em associação, prometem diminuir o tempo de medicação para algo entre 8 e 12 semanas. Eles geram apenas efeitos colaterais toleráveis e alcançam sucesso até em quadros avançados da doença.

A expectativa é que os DDAs, além de ajudarem nos casos de pessoa já infectadas, atuem também na redução da transmissão da hepatite C. Caso o tratamento realmente se comprove eficiente contra todos os genótipos do vírus, a perspectiva é que eles também consigam eliminar novas infecções.

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Fontes: BBC, Science Daily, GIV, Shutterstock.

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