Neuroimagens apontam alterações na atividade cerebral e derrames causados pelo coronavírus
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Um novo estudo da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, pode auxiliar a comunidade médica a compreender os efeitos da covid-19 no cérebro humano. Através da análise de neuroimagens e sintomas neurais apresentados pelos pacientes, os cientistas esperam antecipar casos mais graves.
A pesquisa publicada na revista científica Radiology foi realizada com o auxílio de quatro instituições da Itália, país que chegou a ser epicentro da doença, com mais de 30 mil mortes. A equipe relatou que, diversas vezes, os indivíduos tiveram alterações na atividade cerebral e até mesmo derrames.
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O artigo analisou imagens de 725 casos de pacientes hospitalizados em três grandes instituições italianas: Universidade de Brescia, Universidade de Piemonte e Universidade de Sássari. A amostragem foi feita entre 29 de fevereiro e 4 de abril. Entre os enfermos, 108 apresentaram algum sintoma neurológico grave e precisaram passar por exames de imagem do cérebro ou da espinha, realizando tomografias em 99% dos casos, com 18% também realizando ressonância magnética.
Entre os pacientes com sintomas neurológicos, 59% apresentaram estado mental alterado e 31% sofreram algum tipo de derrame, caracterizados como os traços mais comuns da doença. Em menor escala, os indivíduos também sofreram dores de cabeça, convulsões e tontura.
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De acordo o líder da pesquisa e professor assistente de Radiologia na Universidade de Cincinnati, Abdelkader Mahammedi, essa é a primeira vez que um estudo se aprofunda na análise de imagens neurológicas sobre a covid-19. O pesquisador ressaltou que muito se fala dos efeitos da doença nas vias respiratórias, mas poucas análises foram realizadas no campo da neuroimagem.
Mahammedi fez questão de ressaltar que, apesar de o estudo ainda precisar ser mais aprofundado, pode ser o primeiro passo para que médicos consigam identificar sinais precoces da contaminação pelo novo coronavírus e possam agir da forma mais rápida possível.
No momento, a equipe de cientistas trabalha com duas novas hipóteses envolvendo a ação do Sars-CoV-2 no corpo humano. Segundo o artigo, os sintomas neurológicos podem ser resultado do agravamento da doença ou uma ação direta do vírus no sistema nervoso central. As próximas etapas do estudo devem trabalhar para a construção de um relatório mais consistente.
O laboratório da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo, também tem trabalhado para observar os efeitos do novo coronavírus nos neurônios. Através de uma série de testes laboratoriais, pesquisadores descobriram qual meio o Sars-CoV-2 utiliza como porta de entrada para chegar até o cérebro: a proteína ACE-2.
Em abril, cientistas chineses indicaram que as proteínas ACE-2 e TMPRSS2, encontradas no nariz, serviam como receptoras do vírus. A ACE-2 está presente em diversas regiões do corpo humano, inclusive nos neurônios, o que explicaria a eficácia do vírus em se proliferar em diferentes sistemas do nosso organismo.
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Os pesquisadores da Unicamp cultivaram células neurológicas no laboratório e as contaminaram com o novo coronavírus. O ambiente controlado serviu para ajudar o monitoramento da ação do vírus dentro das células. O estudo foi iniciado após os brasileiros constatarem que a covid-19 despertava sintomas neurológicos nos pacientes infectados. Durante a fase de análise clínica, os pesquisadores observaram que alguns indivíduos apresentavam dificuldade de fala ou de organização de pensamentos.
Durante a próxima etapa, os cientistas da Unicamp pretendem realizar uma comparação entre as substâncias presentes nas células antes e depois da infecção pelo coronavírus. Através dos estudos laboratoriais, seria possível identificar as alterações que o vírus vem causando e como isso estaria ligado aos sintomas atuais da doença.
Com mais de 800 mil casos confirmados, o Brasil está em segundo lugar no ranking de vítimas da covid-19. O número de mortos pela doença no País já ultrapassou 40 mil.
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Fontes: Science Daily, Unicamp e Nature