Centro de Atenção Psicossocial recebe performances de cinema e teatro para auxiliar no tratamento humanizado de distúrbios mentais
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O desafio de trabalhar com a saúde mental no País foi repensado por uma turma do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) 2 em Paranoá, Brasília. Em depoimento, a equipe artística, composta por 22 funcionários e ex-funcionários do local, além de alguns pacientes, reforçou a importância desse tipo de intervenção para oferecer um atendimento humanizado.
O grupo, chamado Atravessa a Porta, atua com cinema, teatro e dança com temas que fazem parte da realidade dos pacientes, conduzindo metodologias tradicionais de tratamento de saúde mental.
A psicóloga e coordenadora das atividades, Amanda Mota, comenta uma das temáticas abordadas: a hipersensibilidade, assunto que é construído de forma comunitária. Para a profissional, é importante que os pacientes sintam o poder de escolha e sejam ouvidos nos temas que mais têm necessidade e vontade de desenvolver.
O grupo, que comemora seu sétimo ano de existência, foi idealizado pela profissional durante visitas ao local antes de fazer parte do quadro de funcionários, enquanto realizava pesquisas para o seu mestrado pela Universidade de Brasília.
Desde que decidiu tirar o projeto do papel, Mota entendeu que o programa deveria funcionar como uma Clínica Ampliada, possibilitando, além de um atendimento mental clássico, com médicos e demais profissionais de medicina e com a indicação de remédios, uma atenção humanizada e bilateral, na qual os pacientes têm o direito e o dever de interagir.
Esse tipo de projeto é fundamental para a reabilitação de pessoas em tratamento de distúrbios mentais: a possibilidade de criação cultural e artística envolve a subjetividade que os próprios pacientes apresentam durante o tratamento com os demais profissionais.
“O projeto não é só um apoio ao tratamento. É também uma contribuição para a cultura, porque a gente acredita que essas pessoas que frequentam o serviço de saúde mental têm muito o que falar. Não só sobre elas, mas sobre o mundo. E elas têm muito a contribuir para a cultura. Uma cultura de diversidade, antimanicomial, uma cultura rica, interessante. Acho que têm uma sensibilidade artística especial. É muito bom trabalhar com elas, pois têm muita facilidade de entrar nos processos de criação”, afirma Mota.
O Ministério da Saúde afirma que o Caps atua como um pilar estratégico dentro da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) com o intuito de oferecer serviços de saúde comunitários com equipes multidisciplinares. Mariane, uma das participantes do programa em Paranoá, afirmou a eficácia do tratamento em auxiliar no trato humano em relação ao método convencional: “Eu sempre acreditei que a escuta era a base de todas relações, tanto entre humanos como entre nós e os animais, nós e as plantas”, destaca.
Para Mariane, os problemas de saúde mental, física e espiritual são resultado da falta de comunicação.
“A gente está em uma sociedade em que, há séculos, talvez há milênios, o topo da pirâmide ensina e pede para os soldados dizimarem a fala, a escuta, o coletivo, para que continue reinando. Porque se o coletivo perceber o que está acontecendo não vai existir o comando, não esse tipo de comando”, declara.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil lidera o ranking internacional de pessoas com transtornos de ansiedade e mantém a quarta posição em relação à depressão. Predisposição, fatores externos como dificuldades financeiras e problemas sociais e até mesmo outras doenças crônicas podem desencadear problemas mentais.
Outra paciente do programa encabeçado pelo grupo artístico, Darlly Priscila, comenta sobre a importância de oferecer um atendimento realmente humanizado. A jovem relata que, em algumas de suas internações compulsórias, esse tipo de olhar poderia ter feito toda a diferença: “Porque as pessoas como nós, que estão aqui, nem sempre estão seguras na sociedade. Tem gente aqui que leva surra no meio da rua, é apontada como louca. Mas, no fim das contas, eu acreditei no meu valor, na minha pessoa”, ressalta.
De acordo com o Ministério da Saúde, R$ 1,6 bilhão serão destinados, apenas neste ano, para atividades de saúde no atendimento a patologias mentais, atendendo a 2.589 unidades do Caps distribuídas por todo o País.
Fonte: Agência Brasil, Ministério da Saúde.
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