Em uma sociedade tecnológica e com rápido envelhecimento, os profissionais da Saúde precisam desenvolver novas habilidades
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No segundo dia do Estadão Summit Saúde & Bem-estar 2022, que acontece de forma online e gratuita, foi debatido o futuro da Saúde a partir das novas habilidades necessárias para os profissionais dessa área e as lições aprendidas com a pandemia de covid-19.
O evento é uma realização do Estadão com o apoio da Rádio Eldorado FM, patrocínio de Afya, Hospital Israelita Albert Einstein, Boehringer Ingelheim, Hospital Sírio-Libanês, Janssen e Thermo Fisher Scientific.
Em um contexto de envelhecimento da população brasileira e de digitalização da Medicina, aliar a tecnologia a um atendimento humanizado é um desafio. “Os profissionais da Saúde trabalham em situações de crise, então a comunicação precisa ser muito assertiva e a técnica bastante apurada para ter um desfecho clínico positivo”, afirmou a coordenadora da área de Enfermagem do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) de São Paulo, Ana Carolina Bhering.
Por isso, incluir na formação de Saúde as habilidades emocionais é o principal instrumento para promover a integração entre tecnologia e humanização. “O aprendizado tem de começar no Ensino Superior e seguir para a vida toda”, comenta o professor titular de clínica médica Milton de Arruda Martins, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
O currículo dos cursos da área da Saúde é extenso, e muitos formandos acabam buscando apenas a especialização nos recursos técnicos. “Ninguém quer ser cuidado pela ‘mão fria’”, comentou Elisa Franco de Assis Costa, membro vitalício do Conselho Consultivo Pleno da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Portanto, os alunos precisam ser estimulados a manter o foco no paciente.
“O espectro da ausência do toque e da família foi algo que tivemos de aprender a lidar com a pandemia”, lembrou a médica-geriatra Ana Claudia de Lima Quintana Arantes, especialista em Cuidados Paliativos e Assistência ao Luto. Nesse sentido, a tecnologia foi uma aliada para aproximar as pessoas sem exposição ao risco.
A empatia, a resiliência e as demais soft skills são diferenciais competitivos no mercado da Saúde e há também outros benefícios. “As habilidades socioemocionais são importantes tanto para a vida pessoal do profissional quanto para a relação do cuidar”, considerou a médica Karina Pavão Patrício, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu (SP).
A inteligência emocional é fundamental para o profissional ter autoconhecimento e saber reagir às situações de crise e estresse. “Se eu estou com um paciente que eu tenho um vínculo e ele está no momento mais delicado da vida dele, por que eu não posso chorar se eu estou sentindo aquela emoção?”, questionou Camila Forni Antunes, supervisora de Desfecho Clínico e Tumor Board do Escritório de Valor do AC Camargo Cancer Center.
A sensibilidade na comunicação e a liderança de equipe, entre outras habilidades, são competências que devem ser desenvolvidas desde a faculdade até a vida profissional. “Reconhecer as dificuldades e a necessidade de aprimorar já é 50% da resolução dos problemas”, argumentou a psicóloga Margareth Bertoli Grassani, gerente do Núcleo de Carreira e Desenvolvimento Profissional das Faculdades Pequeno Príncipe (FPP).
As inovações avançam rapidamente, por isso é importante desenvolver a habilidade de lidar com o novo de uma forma mais tranquila. “Por mais que a tecnologia pareça gerar distanciamento, ela proporciona aproximação”, citou o professor do Master in Business Administration (MBA) em Gestão, Inovação e Serviços em Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Ricardo Bertoglio Cardoso.
Estudos apontam que uma simples mensagem de texto via WhatsApp é capaz de criar uma conexão com o paciente.
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A covid-19 promoveu o uso de recursos técnicos valiosos tanto de comunicação quanto de medicina para enfrentar as pandemias. Contudo, ainda falta uma melhor distribuição dos recursos, principalmente no continente africano, para inibir o surgimento de novas variantes e doenças. A monkeypox, por exemplo, existe há muito tempo na África e está sem a devida atenção.
“O impacto poderia ser muito pior se tivéssemos alavancado o desenvolvimento, a implementação e a aplicação de vacinas em larga escala rapidamente”, analisou a médica-epidemiologista Cristiana Toscano, membro do comitê de experts de vacinas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
As redes sociais possibilitam difundir informações valiosas, mas foram utilizadas também para disseminar fake news, sobretudo as de cunho político. “Isso não entra na previsão de quem planeja”, relatou a professora titular de Infectologia Anna Sara Levin, da Faculdade de Medicina da USP.
Apesar do Sistema Único de Saúde (SUS), o Brasil precisa de uma melhor coordenação para enfrentar as crises sanitárias. “A suposta coordenação trabalhava no sentido contrário das ações recomendadas pela Ciência”, considerou Claudio Maierovitch, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
Outras pandemias como a de covid-19 podem continuar surgindo. Por isso, é importante uma mudança de abordagem na sociedade. “Enquanto não tratarmos o trinômio ‘animal, humano e meio ambiente’ juntos, não vamos conseguir evitar nada”, defendeu o infectologista Marcos Boulos, professor da USP.