Cocaína pode se fixar em células cerebrais mesmo em baixas doses

4 de agosto de 2022 5 mins. de leitura
Consumo da droga pode afetar os sistemas cardiovascular e respiratório

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A cocaína é uma droga ilícita feita a partir das folhas de coca, muito consumidas pelos povos incas. O uso do entorpecente, que pode ocorrer pela inalação do pó, é conhecido por ser estimulante, ou seja, deixa o usuário acelerado e cheio de energia.

Dessa forma, sob o efeito da droga, a pessoa costuma ser bastante energética, sociável, alerta e autoconfiante. Isso por conta da grande carga de dopamina, um psicoativo que intensifica a sensação de prazer na pessoa.

O uso contínuo da cocaína gera inúmeros malefícios para o organismo, como cardiovasculares e mentais. A droga é responsável por 20% a 35% dos infartos de jovens, e outro problema de saúde comum é a psicose.

Nesse sentido, de acordo com o estudo Patología dual y psicosis: un desafío en la clínica diaria, a cada dez viciados no entorpecente, sete apresentam a perda de noção da realidade.

Além disso, um estudo recente mostra que o entorpecente pode, por meio de uma molécula específica, acabar se fixando nas células cerebrais da pessoa mesmo em casos de baixas doses de consumo da cocaína.

A cocaína é uma droga viciante que pode gerar danos para a saúde das pessoas. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Fixação das moléculas de cocaína

O estudo Molecular ‘connector’ helps cocaine latch on to brain cells, even when drug is in low doses, publicado no Science Daily, foi liderado pelo Ph.D. Maged Mohamed Harraz, que também assinou o artigo como principal autor da equipe de cientistas da Johns Hopkins Medicine.

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A pesquisa de Harraz confirma que os efeitos causados pela cocaína acontecem porque as moléculas da droga colam nas membranas cerebrais e acumulam, assim, doses de dopamina no espaço entre as células.

Segundo o estudo, uma dessas moléculas conectoras pode acabar se acumulando na região mesmo com pouco uso do entorpecente. A brain abundant membrane attached signal protein 1 (BASP1), que é um ácido cerebral e proteína, é uma das responsáveis por ligar a droga às células do cérebro.

Teste da BASP1

Para investigar a molécula conectora, a equipe de Harraz adicionou cocaína às células cerebrais de camundongos. Depois disso, elas foram colocadas em pratos de cultura do laboratório com o intuito de fazer a trituração das células e procurar moléculas que se ligassem à cocaína.

Conforme as informações apresentadas no Science Daily, os pesquisadores encontraram a droga ligada à BASP1. O achado é curioso porque a quantia utilizada não envolveu nenhum receptor conhecido para o entorpecente, então a equipe decidiu procurar um resultado semelhante em uma amostragem com metade do número dos receptores BASP1.

Para isso, os cientistas analisaram a região do estriado, que é uma área de bastante ação da cocaína. Nela, eles descobriram que a droga se conecta aos receptores da metade dos camundongos com quantidades normais da molécula BASP1.

Dessa maneira, de acordo com os pesquisadores, isso confirma a teoria de que a molécula conectora é a responsável pelas ações farmacológicas do entorpecente no organismo.

As células cerebrais são as principais afetadas pelos efeitos da droga. (Fonte: Shutterstock)
As células cerebrais são as principais afetadas pelos efeitos da droga. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Conclusões da pesquisa

O trabalho também apresentou que os efeitos da cocaína são diferentes conforme o sexo dos camundongos. Com metade do BASP1, os machos apresentaram menos euforia que as fêmeas, já elas mostraram a mesma agitação de sempre no contato com as moléculas do entorpecente.

Segundo uma revisão feita por Harraz e sua equipe, essa diferença no comportamento dos animais pode ser uma consequência da diferença de concentração de estrogênio entre homens e mulheres.

Os cientistas da Johns Hopkins Medicine pretendem se aprofundar para verificar se é possível fazer uma relação do ocorrido com os humanos, já que mulheres aparentam ser mais suscetíveis ao consumo de cocaína do que homens, mas ainda não existe uma compreensão científica do motivo.

Outro intuito futuro é de que a pesquisa ajude a encontrar um possível medicamento para bloquear a ligação entre o entorpecente e o conector BASP1, auxiliando no tratamento da dependência.

Quer saber mais? Assista aqui à opinião e à explicação dos nossos parceiros especialistas em Saúde.

Fonte: Science Daily, Estado de Minas, Hospital Santa Mônica, Tudo Sobre Exame Toxicológico, Patologia Dual y Psicosis, Estadão

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