Superbactéria cresce 56% em internações hospitalares por covid-19

4 de março de 2022 5 mins. de leitura
O boom de hospitalizações por covid-19 fez os casos de infecção por Acinetobacter baumannii crescerem durante a pandemia

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Devido à covid-19, discussões técnicas da área da Saúde se transformaram em um assunto do cotidiano. Uma delas é a resistência que as bactérias ganharam a antibióticos em meio à pandemia. O tema, agora, passou a compor o ideário do senso comum a respeito dessa classe de medicamento. Mas será que isso é mesmo grave?

Os números dizem que sim. Conheça a pesquisa brasileira que indica um fortalecimento de uma bactéria super-resistente nas unidades de tratamento intensivo (UTIs) em meio ao surto de covid-19 e por que o fenômeno assusta os especialistas da área da Saúde.

Conheça o estudo sobre as superbactérias

Cientistas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) analisaram dados de pacientes internados em UTIs durante a pandemia e concluíram algo assustador: as infecções causadas pela superbactéria mais perigosa do mundo aumentaram 56% depois do Sars-CoV-2 se instalar no Brasil.

A amostra da pesquisa é significativa. As informações coletadas na análise vieram de mais de 11 mil infecções bacterianas registradas em 99 hospitais paranaenses entre janeiro de 2019 e dezembro de 2022. Essas notificações foram comparadas também com dados do Ministério da Saúde sobre a evolução da covid-19 no Brasil.

Uso de medicamentos de forma inadequada pode ser um dos fatores que colaboraram para o aumento de casos de superbactérias. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
Uso de medicamentos de forma inadequada pode ser um dos fatores que colaboraram para o aumento de casos de superbactérias. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Em termos absolutos, a verificação de pessoas acometidas pela bactéria Acinetobacter baumannii cresceu de 373 pacientes, em 2019, para 805, em 2020. Em termos proporcionais, após levar em conta o aumento no número de internações causadas pelo novo coronavírus, houve um salto de 7,9% para 12,4%. Por isso, a conclusão de que o número de casos subiu 56% já “desconta” o efeito quantitativo das internações por covid-19.

Vetores de transmissão

Ainda de acordo com o estudo, os equipamentos hospitalares foram os principais vetores de transmissão da bactéria. Ventiladores mecânicos, sondas e cateteres foram muito usados durante a pandemia, já que os pacientes tinham dificuldade para respirar e deglutir.

Entre esses itens, a ventilação mecânica foi a principal vilã da transmissão da bactéria, com 58% dos casos. Já os cateteres venoso e urinário respondem por 23% e 19%, respectivamente.

Por isso, a conclusão dos cientistas é de que existe uma correlação direta entre o aumento das infecções bacterianas e o uso (e abuso) de antibióticos prescritos a partir da realidade provocada pela covid-19, o que torna as superbactérias ainda mais fortes e resistentes — e o temor é de que não se trate de um problema circunscrito ao Paraná.

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A indústria farmacêutica vive uma "corrida contra o tempo" para conter bactérias super-resistentes aos antibióticos comuns. (Fonte: Kateryna Kon/Shutterstock/Reprodução)
A indústria farmacêutica vive uma “corrida contra o tempo” para conter bactérias super-resistentes aos antibióticos comuns. (Fonte: Kateryna Kon/Shutterstock/Reprodução)

O problema levantado pelos pesquisadores da PUCPR vai ao encontro do que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem percebido em todo o mundo. Ainda em 2017, a entidade publicou uma lista com as 12 famílias de bactérias mais ameaçadoras à saúde humana, e a Acinetobacter baumannii ganhou o selo de prioridade número 1.

A cada vez que se prescreve antibióticos e a bactéria “ganha a queda de braço”, ela fica mais forte para a próxima batalha. Por isso, prudência é fundamental na hora de medicar as infecções em ambiente hospitalar. Essa é uma arma para ser usada na hora certa.

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E, mais uma vez, a máxima de que prevenir é melhor que remediar se aplica nas UTIs. Com bactérias mais resistentes às principais classes de antibióticos, restam poucas opções de fármacos para dar conta das infecções. Daí o cuidado extra que se deve ter na assepsia e antissepsia. Isso vale na hora de higienizar as mãos ao tocar dispositivos invasivos, na higiene oral do paciente e ao desinfectar a pele, sobretudo as feridas. 

Do ponto de vista dos pacientes, também há cuidados a tomar. Antibióticos não combatem viroses, mas a vacina contra viroses, como a contra covid-19, pode evitar exposição ao ambiente hospitalar e, por consequência, às superbactérias.

O problema é tão sério que há projeções assustadoras para o problema. A OMS pondera que, sem saídas efetivas, as superbactérias podem ser mais letais do que o câncer e os acidentes de trânsito em três décadas.

Fonte: Notícias Uol Saúde, Pinterest.

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