Virologistas alertam para potencial pandêmico do vírus influenza

9 de agosto de 2020 5 mins. de leitura
O vírus influenza está presente em diversas espécies de animais, como porcos, cavalos, mamíferos marinhos e aves

Uma notícia publicada no site do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no dia 13 de julho, informou que os pesquisadores identificaram uma nova variante do vírus influenza, que é o causador da gripe, em uma paciente da cidade de Ibiporã, no Paraná.

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Comprovada a presença do vírus influenza A (H1N2)v, que originalmente causa infecções em porcos, o caso foi imediatamente reportado ao Ministério da Saúde, que, cumprindo o protocolo sanitário internacional, notificou a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Esse tipo de caso, no qual um subtipo viral infecta um ser humano, precisa ser notificado com urgência porque certas mutações nesses microrganismos podem levar à disseminação de pessoa para pessoa, o que representa um potencial pandêmico.

Representação do vírus influenza sob a ótica de um microscópio 3D. (Fonte: Shutterstock)

Avaliando o potencial pandêmico

De acordo com a chefe do Laboratório de Vírus Respiratório e do Sarampo do IOC, Marilda Siqueira, essa nova descoberta não deve ser motivo de preocupação.

Para a virologista, “essas detecções ocorrem, ao longo dos anos, em diversos países. Não significa que isso vai se transformar em uma pandemia”.

A respeito do vírus influenza A (H1N2)v, a reportagem esclarece que 26 casos de infecção pelo mesmo microrganismo haviam sido informados à OMS desde 2005, inclusive um registro do Brasil realizado em 2016. No entanto, não há casos de transmissão desse tipo de variante viral entre seres humanos.

A paciente do Paraná

A paciente de Ibiporã, que já se encontra recuperada e nem precisou ser hospitalizada, procurou atendimento médico em abril (mês passado) com sintomas de gripe. Como parte do atendimento de rotina do Sistema de Vigilância da Influenza, ela teve uma amostra do trato respiratório coletada.

Analisado pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Paraná (Lacen-PR), o material revelou a presença de um vírus de influenza A, porém de subtipagem desconhecida. Imediatamente a amostra foi encaminhada para o Laboratório de Vírus Respiratório e do Sarampo do IOC, que é referência nacional para vírus respiratórios e responsável pela identificação das variantes do influenza no Brasil.

Após realizada a caracterização do microrganismo, a chefe do laboratório ressaltou que essa detecção, efetivada durante a pandemia da covid-19, foi representativa da capacidade de resposta brasileira em um momento de sobrecarga dos serviços de saúde e da rede de laboratórios.

Como ocorrem as infecções humanas por vírus de animais?

O vírus influenza está presente em diversas espécies de animais, como humanos, porcos, cavalos, mamíferos marinhos e aves. A espécie suína é a única capaz de ser infectada com vírus originários de aves e seres humanos, bem como de produzir novos vírus com segmentos gênicos trocados provenientes de várias espécies.

O aparecimento dessas novas variantes pode ocorrer tanto por recombinação entre microrganismos de diferentes espécies como por mutações do próprio genoma viral. No caso do vírus detectado no Paraná, os pesquisadores identificaram que a nova variante viral mostrava segmentos do RNA associados a vírus detectados em porcos e humanos.

A pesquisadora Paola Cristina Resende, do laboratório do IOC, explicou na reportagem: “O vírus identificado no Paraná é caracterizado como uma nova variante porque apresenta configurações genéticas diferentes da de outros vírus influenza A (H1N2), incluindo a cepa detectada no Brasil em 2016. Realizando o sequenciamento genômico, observamos que os segmentos H e N da nova variante viral estavam associados a vírus que circularam anteriormente em humanos e suínos. Além disso, detectamos genes internos associados ao vírus influenza A (H1N1), que circulam desde 2009”.

Transmissões de vírus de porcos para humanos são baixas. (Fonte: Shutterstock)

As chances do surgimento de uma nova pandemia

Conforme a chefe do laboratório da Fiocruz, os relatos da OMS revelam que as infecções humanas por vírus de gripes de suínos ocorrem através do contato de pessoas com animais infectados ou ambientes contaminados. Embora as investigações de Ibiporã ainda estejam em curso, é possível que a contaminação tenha ocorrido no frigorífico de suínos onde a paciente trabalha.

Os números revelados pela OMS mostram que são poucas as ocorrências de transmissão do vírus do porco para seres humanos. Além disso, para que esse contágio represente uma ameaça, é preciso que o microrganismo continue replicando de uma pessoa para outra, como ocorreu na pandemia do coronavírus Sars-CoV-2. Apesar de não ser comum, as investigações epidemiológica e laboratorial continuarão para apurar indícios de outros casos de infecção.

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Fontes: Fiocruz e Revista Científica de Medicina Veterinária.

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