A laqueadura tubária é um procedimento contraceptivo permanente que requer cirurgia
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A laqueadura tubária é uma cirurgia realizada em mulheres que desejam evitar, de forma permanente, a gravidez. O Sistema Único de Saúde (SUS) realizou mais de 300 mil procedimentos desse tipo entre 2019 e 2022. O número é bem maior que a inserção de dispositivos ultrauterinos (DIUs) — 70 mil no mesmo período.
Embora seja mais comum entre mulheres com dois filhos, o Ministério da Saúde aponta que a quantidade de laqueaduras tubárias em mulheres sem filhos ou com status não informado tem aumentado. Em 2019, a rede pública de saúde realizou 653 cirurgias do tipo, enquanto em 2022 o número saltou para 1.241.
“A chance de reversão do procedimento é ínfima, mesmo quando é feita uma cirurgia para uma recanalização”, explica a Dra. Camilla Pinheiro, ginecologista e obstetra. Por isso, antes de decidir se submeter à cirurgia, a mulher deve refletir sobre suas necessidades e contar com aconselhamento médico e psicológico.
A laqueadura tubária, também conhecida como esterilização feminina e popularmente como ligação de trombas, é um procedimento cirúrgico que impede os espermatozoides de alcançarem os óvulos, evitando a fertilização e, por consequência, a gravidez.
No procedimento cirúrgico, as tubas uterinas — que conectam os ovários ao útero — são cortadas, amarradas, cauterizadas ou bloqueadas. Isso cria uma barreira física ou funcional que impede a passagem dos espermatozoides, tornando a fertilização dos óvulos impossível.
A laqueadura é sempre realizada em ambiente hospitalar. “É necessário anestesiar a paciente, geralmente com a raquidiana, a mesma usada no parto cesariano”, explica a obstetra. Em alguns casos, pode ser preciso sedar a paciente ou administrar anestesia geral.
Em 2022, o Brasil aprovou uma nova legislação sobre o uso de procedimentos contraceptivos. A nova lei reduziu de 25 anos para 21 anos a idade mínima para passar pelo procedimento, mesmo sem ter filhos. Quem tiver dois filhos vivos pode optar pela cirurgia contraceptiva em faixa etária menor.
As novas regras também dispensam o consentimento do cônjuge e reduziu a burocracia para solicitar a esterilização voluntária. O procedimento pode ser feito durante o parto, evitando uma nova cirurgia para a laqueadura. Para isso, a cirurgia tem de ser solicitada com 60 dias de antecedência.
“No entanto, pacientes que têm contraindicações cirúrgicas precisam procurar outros métodos contraceptivos”, alerta Pinheiro. Isso pode incluir pacientes com problemas cardíacos, pulmonares e coagulação sanguínea ou até com questões religiosas.
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Existem diferentes técnicas cirúrgicas disponíveis para a laqueadura tubária, cada uma com suas próprias características e abordagens. O método deve ser escolhido após avaliação cuidadosa, discussão com um médico especializado e consideração das necessidades e circunstâncias de cada paciente.
Confira os principais tipos dessa cirurgia.
A laqueadura tubária via laparotomia é a técnica cirúrgica mais tradicional. Nesse procedimento, é feita uma incisão maior na região abdominal, permitindo ao cirurgião acesso direto às trompas de falópio.
Embora seja mais invasiva do que as opções laparoscópicas ou vaginais, a laparotomia pode ser necessária em certos casos, como quando há aderências ou outras condições que dificultam a realização do procedimento por abordagens menos invasivas.
A laqueadura tubária por minilaparotomia é uma técnica cirúrgica semelhante à laparotômica. No entanto, a incisão realizada é menor, cerca de 2 a 3 centímetros. Por isso, é considerado um procedimento minimamente invasivo, com menor tempo de recuperação e menos risco de complicações em relação ao método mais tradicional.
A laqueadura tubária via laparoscopia é realizada com o auxílio de um laparoscópio, um instrumento fino com uma câmera na ponta, inserido por pequenas incisões na região abdominal. Essa técnica também é menos invasiva do que a laparotomia, e a paciente se recupera mais rápido, com menos chances de complicações pós-operatórias.
A laqueadura tubária via vaginal é um procedimento cirúrgico em que as tubas uterinas são acessadas pela vagina. Essa técnica é menos invasiva em comparação com outras opções e não requer incisões na região abdominal. É uma alternativa para mulheres que desejam evitar cirurgias mais complexas ou têm contraindicações para outras abordagens.
O pós-operatório da laqueadura é relativamente simples. “A paciente tem alta no mesmo dia ou no dia seguinte”, afirma a obstetra. Após o procedimento, algumas mulheres podem experimentar algum desconforto, inchaço ou sensibilidade na área abdominal, mas esses sintomas costumam diminuir dentro de alguns dias.
A médica recomenda o repouso domiciliar por sete a dez dias, a depender do método cirúrgico aplicado. Como a dor é pequena no pós-operatório, pode ser tratada com analgésicos comuns. Além disso, é importante não manter relações sexuais por até 30 dias após o procedimento. “Se tiver ponto, a retirada é feita em 14 dias”, completa Pinheiro.
Dra. Camila Pinheiro é graduada em Medicina pela FTESM Rio de Janeiro, com residência em Ginecologia e Obstetrícia pela UERJ. A profissional também atuou no Fellow Medicina Fetal Mount Sinai, Research Assistent SunnyBrook Hospital e Medicina Fetal Cetrus São Paulo.
Fontes: Medway, Gineco Bayer, Agência Senado, Dra. Camila Pinheiro/ginecologista e obstetra