Como a música pode ajudar no tratamento da depressão?

30 de agosto de 2023 5 mins. de leitura
300 milhões de pessoas sofrem com depressão no mundo e a música pode desempenhar um papel importante no tratamento

A depressão atinge cerca de 300 milhões de pessoas em todo mundo, o que corresponde 5% da população global adulta, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mais de 75% das pessoas em países de baixa renda não recebem o tratamento adequado, mas a terapia com música pode ser eficaz para tratar o transtorno.

Uma meta-análise realizada por cientistas chineses publicada na PLoS One mostrou que os acordes musicais podem ter um efeito positivo em quadros depressivos. As intervenções realizadas com musicoterapia foram associadas a uma redução significativa dos sintomas da depressão, principalmente em pacientes com transtorno psiquiátrico grave.

Os resultados das análises revelaram que os efeitos terapêuticos variaram de acordo com o tempo e o número de sessões, bem como atingiram diferentemente alguns grupos de pacientes. As pessoas com demência que foram submetidas a esse tipo de terapia de 6 a 12 semanas tiveram os resultados mais nítidos, apontam os pesquisadores.

Como a música age no cérebro?

A música pode criar novas conexões neurais e ajudar a reduzir os sintomas da depressão. (Fonte: GettyImages/Reprodução)
A música pode criar novas conexões neurais e ajudar a reduzir os sintomas da depressão. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

A música estimula diversas regiões do cérebro, como o córtex auditivo, que processa os sons, e o córtex pré-frontal, relacionado à tomada de decisões, ao planejamento e ao processamento emocional. Com isso, desencadeia a liberação de neurotransmissores, como a dopamina, associada ao prazer e à recompensa.

O sistema límbico, envolvido no processamento emocional, pode ser ativado pela música, estimulando respostas afetivas ligadas a lembranças pessoais e a eventos passados. Isso ocorre porque os sons são processados em áreas cerebrais associadas à memória, como o hipocampo.

A exposição frequente à música leva à formação de novas conexões neurais e fortalece as conexões existentes. Além disso, o ritmo musical pode propiciar a sincronização neuronal, afetando a atenção, a coordenação motora e até mesmo a regulação do humor.

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Quais são os benefícios da música no combate à depressão?

(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Os sons têm um impacto direto no humor das pessoas e podem auxiliar no relaxamento e na concentração. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

A música pode ajudar a melhorar o humor e proporcionar uma sensação de felicidade e prazer, estimulando a liberação de neurotransmissores associados ao bem-estar, como a dopamina e a serotonina. A terapia musical com som relaxante diminui os níveis de estresse e ansiedade, promovendo uma sensação de calma e tranquilidade.

As canções permitem que as pessoas canalizem sentimentos e emoções por meio de letras, melodia e ritmo das músicas, sendo útil para quem tem dificuldade para expressar seus sentimentos verbalmente. Ouvir música também ajuda a desviar o foco de pensamentos negativos e ruminação, característicos da depressão.

A música energizante e inspiradora contribui para aumentar a motivação e a disposição para enfrentar o dia a dia. Participar de atividades musicais, como tocar um instrumento ou cantar em um coro, pode promover um senso de comunidade e conexão social, o que é importante para combater a solidão e o isolamento associados à depressão.

Como funciona a musicoterapia?

musicoterapia é uma abordagem que utiliza a música e suas propriedades terapêuticas para promover a melhora do bem-estar físico, emocional, mental e social de uma pessoa. É conduzida por musicoterapeutas, profissionais treinados que dispõem de conhecimentos musicais e habilidades específicas.

A terapia envolve múltiplos sentidos, estimulando a percepção auditiva, tátil e visual. Pode ajudar a aprimorar a consciência sensorial, a coordenação motora, a integração sensorial e a estimulação cognitiva. O objetivo da musicoterapia é criar um estado de relaxamento, reduzir o estresse, aumentar a motivação, melhorar o humor e promover o autocuidado.

A técnica pode ser aplicada em uma variedade de configurações, como hospitais, clínicas, escolas, consultórios particulares e centros comunitários. Com base nas informações coletadas com o paciente, o musicoterapeuta realiza atividades como tocar instrumentos musicais, cantar, improvisar, compor músicas e ouvir música selecionada.

Fontes:

Qishou Tang.; Huan Zhou.; Peijie Ye. Effects of music therapy on depression: A meta-analysis of randomized controlled trials. PLoS One. 2020.

MUSZKAT, M. Música e Neurodesenvolvimento: em busca de uma poética musical inclusiva. Literartes, [S. l.], v. 1, n. 10, p. 233-243, 2019.

Organização Mundial de Saúde (OMS). Depressive disorder (depression).

Centro de Valorização da Vida (CVV). Benefícios da música para a saúde mental.

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