Pesquisa aponta que alguns enxaguantes bucais contêm ingredientes capazes de destruir a membrana protetora de outros coronavírus
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Um artigo científico indicou que o uso de enxaguante bucal pode ajudar a reduzir a propagação do novo coronavírus. O estudo foi liderado por cientistas da Universidade de Cardiff e publicado na revista científica Function, da Universidade de Oxford.
Os cientistas sugerem que as substâncias encontradas no produto seriam capazes de romper os “envelopes” que envolvem o vírus, o que poderia retardar a sua disseminação. Componentes como etanol, clorexidina, cloreto de cetilpiridínio, peróxido de hidrogênio e povidona-iodo podem ser usados para a ruptura da membrana lipídica do vírus.
A equipe, no entanto, deixa claro que a pesquisa é especulativa e requer mais estudos para comprovar a eficácia do enxaguante bucal contra o novo coronavírus. Se os ensaios clínicos ratificarem isso, a descoberta poderá ser muito útil para conter a propagação da doença enquanto as vacinas estão sendo desenvolvidas.
Enquanto há cientistas trabalhando na produção de vacinas, há uma linha de pesquisa focada na redução da disseminação do coronavírus. Esse estudo é especificamente voltado para a destruição do envelope que envolve o vírus.
O Sars-CoV-2 é uma estrutura envelopada, o que significa que há uma membrana externa gordurosa que permite que o vírus se replique. Uma das formas mais eficazes de destruir o envelope viral e o próprio vírus é lavar as mãos com sabão ou higienizá-las com desinfetantes específicos. Há pesquisas que comprovam a eficácia de desinfetantes para mãos a fim de destruir o novo coronavírus.
Buscando o local de maior risco de propagação, a atenção de muitos cientistas se volta para a garganta, pois é provável que um paciente com a covid-19 tenha uma concentração alta do novo coronavírus nessa parte do corpo. Por isso é tão fácil transmiti-lo por meio da tosse e da própria fala.
A intenção dos pesquisadores desse estudo é entender se os enxaguantes bucais à base de álcool, em contato com a garganta do indivíduo, conseguiriam reduzir a transmissão do vírus. No artigo, eles ressaltam que, em virtude da velocidade de disseminação do novo coronavírus, ainda é preciso aprender muito sobre as suas funções.
A teoria proposta pelo estudo encontra algumas dificuldades; a primeira delas é a questão da concentração de álcool. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) enfatiza que a concentração de álcool em desinfetantes para mãos precisa ser de pelo menos 60% para matar o vírus.
Enxaguantes bucais como Listerine têm por volta de 26%. A própria marca, inclusive, emitiu um comunicado oficial afirmando que o produto não foi testado contra o novo coronavírus e “não é recomendado como forma de prevenção ou tratamento da covid-19”.
Com informações sobre concentração de álcool, é preciso ter cuidado. Para dissuadir as pessoas de tentarem destruir o vírus de forma irresponsável, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que ninguém deve ingerir produtos de limpeza. Nos EUA, em abril o número de pessoas com intoxicação por produtos de limpeza aumentou 20% em relação ao mesmo período do ano passado.
De acordo com a líder da pesquisa, a professora Valerie O’Donnell, experiências com tubos de ensaio e estudos clínicos limitados mostram que alguns enxaguantes bucais têm ingredientes que podem atacar lipídios de vírus envelopados semelhantes.
“O que nós não sabemos ainda é se existem enxaguantes bucais ativos contra a membrana lipídica do Sars-CoV-2”, disse a pesquisadora, citada pelo The Independent.
Embora não haja testes conclusivos a esse respeito, a área se mostra um campo de estudo fértil para se pensar em formas de reduzir a disseminação do novo coronavírus.
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