Nova técnica de análise otimiza prescrição de antibiótico

19 de setembro de 2023 5 mins. de leitura
Método AtbFinder permite diagnosticar de modo rápido e eficaz o tipo de bactéria a ser tratado, evitando o desenvolvimento de superbactérias

A penicilina revolucionou a medicina moderna. Doenças bacterianas que eram causas recorrentes de morte hoje são facilmente tratáveis, e há diversas medicações de amplo espectro capazes de enfrentar a maior parte das infecções comuns. Mas há um novo desafio à frente: o que fazer com os microrganismos que se tornam resistentes aos fármacos?

Uma nova técnica parece ser eficaz nesse cenário: a AtbFinder. Ela permite responder de modo mais inteligente às bacterioses, otimizar a prescrição de medicamentos e, assim, atenuar o problema de superbactérias, que matam mais de 1 milhão de pessoas no mundo, anualmente.

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Por que as superbactérias são preocupantes?

Automedicação e equívocos na prescrição de antibióticos privilegiam o surgimento de bactérias imunes a antibióticos. (Fonte: Pexels/Reprodução

Em novembro de 2010, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a venda de antibióticos sem receita médica no Brasil. A medida gerou debates na época, sobretudo em um país com dimensões continentais e dificuldade de expandir o acesso médico a territórios mais distantes, mas respondia a uma demanda concreta: infecções persistentes a antibióticos.

A automedicação é mesmo uma das principais causas da resistência criada pelos microrganismos, mas não é a única. A Proteste, Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, organizou um levantamento e descobriu que, embora a maior parte das farmácias cumprisse a determinação, voluntários da organização conseguiram receitas de antibióticos, mesmo sem sintomas que os justificassem.

O problema é sensível, mas os médicos não são os inimigos nessa história. A dificuldade em estabelecer vínculos na atenção primária são parte do problema, e os medicamentos disponíveis nem sempre são satisfatórios, seja por limites técnicos, seja por problemas de financiamento em pesquisa.

Mesmo no caso de infecções identificadas em ambiente hospitalar, que costuma ter estrutura laboratorial para tratar o tipo de microrganismo e o atacar com mais eficácia, há uma lacuna temporal que é prejudicial: enquanto não se detecta o tipo de agente, prescrevem-se antibióticos de amplo espectro.

São vários os motivos pelos quais as superbactérias continuam a se proliferar, mas é inquestionável que soluções são urgentes. Um estudo de 2016 que revisitou a questão demonstrou que há mais de 700 mil mortes anuais decorrentes desse tipo de infecção. Outro, de 2019, estima que já há 1,27 milhão de mortes ao ano causadas por superbactérias. E é provável que o “efeito pandemia” apresente números ainda maiores em estudos mais recentes.

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Como funciona o método AtbFinder?

Método possibilita rastrear comunidade de microrganismos, não dependendo do isolamento de cada tipo de bactéria presente na amostra analisada. (Fonte: TGV DX/Reprodução)

Ao receber um paciente com provável bacteriose, é comum que médicos mediquem exclusivamente a partir do raciocínio clínico. A decisão é compreensível e pode ser eficaz, mas, em consultas com pouco tempo de escuta e sem acompanhamento de longo prazo com o mesmo paciente, pode-se não fazer a melhor prescrição.

Diante disso, cientistas desenvolveram o AtbFinder, que procura identificar rapidamente não o tipo de bactéria, mas sim em qual “time” de bactérias ele se enquadra. Por meio de uma espécie de cultura chamada TGV, que permite compreender o crescimento de diferentes espécies bacterianas, é possível enxergar quais são os tipos de microrganismo em determinadas doenças.

Algumas feridas, infecções abdominais e casos de pneumonia são conhecidos por ter uma série de bactérias operando em conjunto. Assim, o teste considera o local da coleta do material e consegue rapidamente identificar a composição de bactérias presentes.

A técnica também se mostrou válida em casos que são um desafio para a medicina, como a fibrose cística. Nos 35 pacientes que foram analisados por meio do novo sistema de diagnóstico, a função pulmonar melhorou em 28%, e o uso de antibióticos dispensados diminuiu pela metade. Além da melhora na qualidade de vida, os impactos disso vislumbram diminuir o tempo de intervenções hospitalares e otimizar as chances de transplantes de pulmão, por exemplo.

Outro mérito do AtbFinder, que passa por processos de patenteamento e ainda não está disponível no mercado, foi perceber que, à medida que a comunidade bacteriana se desenvolve em mutualidade, a aplicação de antibióticos específicos para uma das espécies inibia o desenvolvimento das demais.

O método representa um avanço mesmo em relação a outros tipos de identificação de microrganismos que permitem fazer teste de suscetibilidade refinado, como Vitek-2, Phoenix, MicroScan, PCR e MALDI-TOF MS. O diferencial ocorre porque, além de caras, essas técnicas exigem isolamento do agente infeccioso, o que leva tempo e faz que se prolongue o uso de antibióticos de amplo espectro.

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