Pesquisa revela novo medicamento potencial contra a covid-19

30 de agosto de 2021 4 mins. de leitura
Composto extraído de medicamento contra tênia tem potencial para virar uma arma contra a pandemia

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Mesmo após um ano e meio de pandemia, não há medicamentos com eficácia cientificamente comprovada contra a covid-19 no organismo humano. Entretanto, pesquisadores seguem buscando alternativas farmacológicas capazes de reduzir o avanço do Sars-CoV-2 e seus efeitos.

Em um artigo científico recentemente publicado no periódico acadêmico ACS Infectious Diseases, um grupo de cientistas mostrou-se otimista em relação à criação de um medicamento que, originalmente, é usado no combate a uma verminose.

Esperança

O avanço científico envolve a criação de um novo medicamento, que de forma geral é um composto baseado em modificações das salicilanilidas. Essa é uma classe de medicamentos anti-helmínticos, ou seja, bastante usada no combate contra infecções de tênia. A substância é usada até mesmo para evitar a presença de parasitas nos organismos de animais como cães, gatos e bovinos.

A pesquisa é conduzida pelo professor Kim Janda, que faz parte do Worm Institute For Research & Medicine. Os cientistas pegaram a estrutura de salicilanilidas e a modificaram em nível molecular, criando um composto completamente novo. Entre todas as amostras, a batizada como “salicilanilida 11” é a que demonstrou mais potencial.

O professor Kim Janda faz parte do Departmaneto de Ciência Microbial, Imunologia e Química do instituto.
O professor Kim Janda faz parte do Worm Institute For Research & Medicine. (Fonte: Academic Minute)

Ao entrar em contato com o vírus, o composto dificulta a replicação e o depósito de material genérico da unidade infecciosa em novas células, o que reduz o espalhamento pelo organismo. Essa atuação direta faz que um futuro medicamento seja igualmente efetivo inclusive contra variantes do coronavírus, como a Delta.

Outra boa notícia é que as reações encontradas envolvem também a redução no nível de proteínas normalmente encontradas em áreas bastante prejudicadas pela covid-19, como pulmões bastante inflamados em estágios já avançados da doença. Isso pode reduzir consideravelmente a taxa de óbitos, já que pode atuar inclusive no tratamento em casos mais graves.

O que falta?

A utilização de medicamentos criados a partir de compostos como a “salicilanilida 11” não é novidade em laboratórios, mas o caminho para que eles sejam transformados em remédios comerciais e de fato sejam utilizados no tratamento contra a covid-19 ainda pode ser longo.

Os testes apontados pelo estudo de Janda ainda são fases muito iniciais, feitos em células cultivadas em laboratório e ratos. Fora os avanços científicos, é necessária ainda a aprovação de órgãos reguladores para que o tratamento seja de fato considerado para seres humanos — no caso dos Estados Unidos, onde fica o instituto, quem deve cuidar dos trâmites burocráticos é a Food and Drug Administration (FDA).

Os medicamentos testados são customizações de remédios contra a infecção por tênia no organismo.
Os medicamentos testados são customizações de remédios contra a infecção por tênia no organismo. (Fonte: CDC’s Division of Parasitic Diseases and Malaria (DPDM)/Reprodução)

Outro desafio dos cientistas é evitar os efeitos adversos intensos e a atuação limitada desses medicamentos. A niclosamida, que é um dos derivados comuns dos remédios contra tênia, tem uma atuação focada no trato digestivo, região onde os parasitas costumam se localizar, ou seja, algo insuficiente no combate à covid-19, bastante concentrada no sistema respiratório, mas que pode se espalhar até mesmo para a retina humana.

A partir de agora, os pesquisadores do Scripps Research devem focar na utilização do composto 11 como um possível tratamento futuro. Como se trata de uma modificação de um medicamento que pode ser bastante agressivo para o corpo em termos de substâncias tóxicas, a utilização dos remédios para tênia em sua forma atualmente comercializada não é recomendada.     

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Fonte: Science Daily, Scripps Research.

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