Câncer de pulmão em fumantes: a genética faz diferença?

31 de julho de 2022 6 mins. de leitura
Entenda por que alguns tabagistas desenvolvem câncer de pulmão e outros não, mesmo com hábitos de vida e estímulos ambientais semelhantes

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A relação entre o fumo e o câncer de pulmão é conhecida pela Ciência desde a metade do século passado. Hoje, sabe-se que uma pessoa tabagista tem um risco de cinco vezes a dez vezes maior do que o não tabagista de desenvolver a doença; e 20% a 30% dos casos desse câncer estão associados ao tabagismo passivo.

Além da nicotina, que causa dependência, a fumaça do tabaco contém mais de 7 mil compostos e substâncias químicas. Desses, 69 já foram identificados como cancerígenos.

Diante da relação tão íntima entre fumo e câncer de pulmão e do fato de esse tipo ser o mais comum no mundo entre as variações da doença (no Brasil, está em segundo lugar), fica a pergunta: por que algumas pessoas não desenvolvem a doença mesmo fumando muito e por muito tempo? Qual é o papel da genética nesse cenário?

A genética é determinante para o câncer de pulmão?

A ciência ainda não sabe se há um ou mais filamentos genéticos responsáveis por uma predisposição significativa ao desenvolvimento do câncer de pulmão. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Médicos já sabem que ter parentes de primeiro grau com histórico de câncer de pulmão é um fator de risco para a doença, mas essa informação está longe de explicar em detalhes o fenômeno. Afinal, por que pessoas sem histórico familiar adoecem mesmo sem fumar? E por que a doença às vezes é tão recorrente em alguns grupos familiares, mesmo com hábitos de vida e localização geográfica diferentes?

De acordo com Thiago Fagundes, pneumologista da Comissão de Câncer de Pulmão da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), ainda não há como fazer um estudo genético para saber quem são as pessoas com fator de risco para o câncer de pulmão.

Um antecedente familiar associado ao câncer de pulmão é um fator a ser considerado. Se uma pessoa que tem câncer de pulmão na família está se expondo aos fatores de risco, corre mais riscos de desenvolver o câncer”, diz Fagundes.

Entre aproximações e tentativas de entender a doença, o que se sabe é que o tabaco é responsável por 80% a 90% dos casos, mas ainda não se descobriu por que algumas pessoas adoecem e outras não.

Genética versus hábitos

Se a genética ainda não foi decifrada, a Ciência contribui com apoio para parar de fumar. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Cientistas de todo o mundo seguem investigando como genética, comportamento e ambiente se articulam para a ocorrência do câncer de pulmão. Embora haja boas pistas de que a genética interfere na manifestação da doença, ela própria é fortemente influenciada pelo modo de vida, por isso é difícil precisar o peso de cada um desses pilares.

“Nós temos genes que são guardiões do bom funcionamento das células, e os compostos cancerígenos podem adormecer esses genes e fazer que células anormais comecem a se desenvolver no corpo“, explica a oncologista Ana Cristina Herrera, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

Herrera afirma que, desse modo, não existem fatores que isoladamente expliquem a ocorrência do câncer de pulmão. Ele é mais frequente em tabagistas, mas essa não é a única causa, já que poluição e substâncias inaladas por conta de atividades profissionais são outros exemplos de origem da doença.

“O funcionamento do organismo depende de cada indivíduo, e uma doença pode se apresentar de maneira diferente em relação ao contato com cancerígenos. Esse tempo depende de cada pessoa, mas sempre haverá algum dano ao organismo”, ela comenta.

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Mudança

É certo que o tabaco causa danos ao corpo, mas Herrera reforça que parar de fumar melhora a qualidade de vida; por isso, independentemente da genética, é importante cuidar daquilo que depende de cada pessoa: hábitos melhores. Se não é possível conhecer em detalhes qual é o nível de predisposição, os pesquisadores têm certeza das vantagens de parar de fumar.

Os benefícios são quase imediatos. Após 12 horas a 24 horas, os pulmões já funcionam melhor. Após dois dias, o olfato e o paladar também. Após três semanas, é a vez da respiração e da circulação. Após um ano, o risco de morte por infarto cai pela metade”, explica a médica.

Confira algumas dicas dos especialistas ouvidos pelo Estadão Summit Saúde para parar de fumar:

  • procure um pneumologista ou médico — o Sistema Único de Saúde (SUS) tem programas eficazes de cessação do tabagismo, com consultas, palestras, grupos de apoio e intervenção medicamentosa, se necessário;
  • escolha uma data para ser “o dia da virada” e se programe — “Esse momento não precisa ser de sofrimento, pode ser de celebração”, diz Herrera. Se isso for muito difícil, pense em reduzir o número de cigarros gradualmente;
  • mude sua rotina para além do fumo — faça caminhadas ou procure outro esporte que ajude a movimentá-lo;
  • persista — a dependência química é um fator que dificulta deixar o fumo, mas é possível fazer isso com uma rede de apoio. “Se esse mal for eliminado, há mais chances de o paciente evoluir bem e reduzir o risco para si, para os familiares e para todos que convivem com ele”, finaliza Fagundes.

Quer saber mais? Assista aqui a opinião dos nossos parceiros especialistas em Saúde.

Fonte: Scielo, Inca, Oncoguia

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