Sofrimento psíquico no trabalho: o que causa e como evitar?

31 de agosto de 2023 4 mins. de leitura
Ritmo intenso, preconceito e assédio contribuem para as doenças mentais associadas ao trabalho

Transtornos mentais como depressão e estresse estão entre as maiores causas de afastamento do trabalho no Brasil, revelando uma situação epidêmica. Foi o que concluíram os participantes da 342ª Reunião Ordinária da Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CISTT) do Conselho Nacional de Saúde (CNS), ocorrida em maio.

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 10,2% das pessoas com 18 anos ou mais foram diagnosticadas com depressão naquele ano. Muitas vezes relacionado ao quadro depressivo, o suicídio ocasionado por adoecimento no trabalho também cresceu no período.

O sistema de informação de óbitos registrou 13 mil casos de suicídio no País no mesmo ano, dos quais cerca de 12 mil na população de 14 a 65 anos. Destes últimos, 10 mil tinham associação com pessoas em atividade de trabalho, a maioria (77%) entre homens.

O trabalho excessivo é um dos fatores que levam ao adoecimento mental. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
O trabalho excessivo é um dos fatores que levam ao adoecimento mental. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Segundo a professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Márcia Bandini, que participou do evento, o sofrimento psíquico no ambiente de trabalho é um problema que precisa ser discutido amplamente, tendo em vista o cenário mostrado no levantamento.

Causas e categorias mais atingidas

Cobranças em excesso, metas inatingíveis, falta de reconhecimento e acúmulo de funções são alguns dos fatores que contribuem para o surgimento das doenças mentais. Nas pessoas que já tenham algum distúrbio previamente, esses aspectos facilitam a intensificação dos sintomas e o adoecimento.

Agricultores e trabalhadores de pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura são os mais afetados, conforme a PNS, seguidos por bombeiros, policiais e agentes carcerários. Profissionais da enfermagem, construção civil e transportes também aparecem em destaque no ranking.

Profissionais da saúde estão entre os mais afetados. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Profissionais da saúde estão entre os mais afetados. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Para Tânia Maria de Araújo, pesquisadora da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), os dados sugerem uma situação desanimadora, pois apontam tendência de crescimento. “Trata-se de uma situação que tem o desenho claramente definido de uma epidemia”, disse ela ao site do CNS.

A especialista da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Thaís Oliveira acredita que a situação pode ser ainda pior, pois muitos trabalhadores não expõem suas dores. “Há medo e receio de culpabilização pelo sofrimento em termos individuais, e isso historicamente gera a invisibilidade da situação”, observou.

Prevenção

Diante do quadro grave de sofrimento psíquico no ambiente de trabalho, as especialistas sugerem a criação de políticas públicas que promovam a saúde mental nas empresas e no Sistema Único de Saúde (SUS). A formação de gestores com foco na saúde do trabalhador é outra medida importante.

Elas indicam ainda o resgate e o fortalecimento de coletivos e entidades de representação, bem como a criação de espaços de denúncia para casos de assédio moral, igualmente em crescimento. Combater a naturalização e a romantização do estresse é outra ação apontada.

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As doenças psíquicas do trabalho podem ser tratadas com psicoterapia, medicamentos, afastamento, mudanças de hábitos e postos, entre outras alternativas, dependendo do caso.

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