Especialistas refletiram sobre a importância da atenção da indústria privada e do serviço público de saúde às práticas de ESG no Summit ESG 2022
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Na quinta-feira (23) de junho, a 2ª edição do Summit ESG, realizado pelo Estadão, chegou ao terceiro dia, e o tema de um dos painéis foi “Governança clínica na saúde: empresas do setor focam o atendimento transversal dos pacientes”.
Nele, o professor Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública da USP e do Mestrado Profissional da FGV, Paulo Nigro, diretor-executivo (CEO) do Hospital Sírio-Libanês, e Gustavo Pinto, diretor de Operações Médicas na Dasa, trouxeram reflexões a respeito da aplicação de conceitos da abordagem tanto na indústria privada quanto no serviço público de saúde.
ESG é uma sigla que, apresentada no ano de 2004 em um relatório do Pacto Global, braço da Organização das Nações Unidas (ONU), engloba modelos corporativos capazes de impactar positivamente fatores ambientais, sociais e de governança.
“Já faz parte da prática diária de grandes empresas de saúde”, explicou Gustavo Pinto, salientando que aquelas que aderem ao ESG buscam fornecer aos pacientes um cuidado integrado com ações de prevenção de doenças e promoção à saúde, além de atenção paliativa considerando o todo. Redução de desperdícios e otimização de recursos fazem parte do movimento, disse o diretor.
Vecina Neto exemplificou o cenário de adesão ao ESG citando o projeto Hospitais Saudáveis, do Estado de São Paulo. Segundo o professor, as diretrizes do programa promovem proteção ao meio ambiente e construção de responsabilidade social e de governança. Segundo Neto, um conjunto grande de hospitais tenta cumprir, mesmo que parcialmente, essa agenda.
Paulo Nigro ressaltou a importância de se atentar às exigências: “a grande novidade nos princípios da sustentabilidade em relação a décadas passadas é que a sigla entrou no mundo financeiro, incluindo bolsas de valores. Passou a ser um critério de avaliação de investidores, que escolhem, assim, no que investir”.
De acordo com os palestrantes, há diversas maneiras como hospitais e clínicas podem atuar para atenderem aos critérios de ESG. Trata-se de uma jornada de longo prazo, dependente de metas baseadas na geração de impactos efetivos, pontuou Nigro.
Além disso, Vecina Neto ponderou que ações do tipo são altamente complexas e variam conforme a região onde são executadas, mas todas vão ao encontro dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Conferência das Nações Unidas.
Gonzalo, em sua fala, apresentou alguns exemplos, como: substituição de substâncias químicas por soluções menos poluentes; redução do uso de materiais, assim como reciclagem e pensamento voltado à economia circular; melhoria de eficiência energética por meio da adoção de matrizes limpas; reaproveitamento de água; otimização de transporte para a minimização de pegada de carbono; gerenciamento eficaz de medicamentos e produtos utilizados em atendimentos; construção de edifícios menos agressivos; compras de insumos seguras e sustentáveis; e incentivo à alimentação saudável produzida por práticas também sustentáveis.
Gustavo Pinto complementou que a Dasa atua em algumas frentes. Por exemplo, por meio da implementação da digitalização, suprimiu a geração de mais de 10 milhões de películas de exames de medicina diagnóstica anualmente.
Em relação à reciclagem (adotada também pela Dasa), o Hospital Sírio Libanês gera resíduos suficientes para fomentar o trabalho de uma cooperativa e consolidar uma cadeia de valor para a comunidade. Apenas em 2021, destinou 1,2 mil toneladas à entidade.
De todo modo, o cuidado com o gerenciamento de resíduos não pode ser deixado de lado dado seu potencial de contaminação. Vecina Neto mencionou incineração e depósito em aterros sanitários e lixões como destinos mais comuns, defendendo que é preciso repensar o cenário e reduzir a agressão ao meio ambiente, especialmente levando-se em conta a evolução tecnológica dos últimos anos. “Mesmo a Política Nacional de Resíduos tem 12 anos. Muita coisa mudou”, disse Paulo Nigro.
ESG na área de Saúde, mais do que considerar toda a cadeia de suprimentos, segundo Gustavo Pinto, demanda conversas mais francas e céleres em relação à evolução tecnológica, aplicada no dia a dia de hospitais e laboratórios.
A falta de diálogo, inclusive com reguladoras, prejudica a ampliação de alternativas, de acordo com Gonzalo Vecina Neto, que também mencionou a ausência de divulgação daquilo que grandes empresas do setor empreendem, que deveriam ser exemplos para outras: “É preciso mais para mostrar que é possível fazer mais. O importante dessa agenda é discutir e gerar ações”.
“Um pequeno processo em algum momento já faria a diferença graças às tecnologias disponíveis. Há uma indústria de transformação evoluída”, indicou Paulo Nigro, destacando, por exemplo, como o alinhamento de instituições com a indústria farmacêutica poderia reduzir a geração de plástico e afins.
“Hoje se fala muito em design for environment, que projeta materiais pensando no descarte, na redução dos impactos. São pensamentos que podemos levar para a frente”, ele falou.
Entretanto, é preciso superar alguns obstáculos, sendo o modelo de remuneração um dos maiores. Afinal, ele não contempla, por enquanto, questões ambientais. “É difícil fazer que operadoras criem uma agenda de atenção ambiental, que não mexa na sinistralidade e nos resultados. A governança clínica entra aqui”, afirmou Vecina Neto. “Se não há mudança de modelo de remuneração, fica difícil despertar qualquer outro tipo de consciência na cadeia de valor. Hoje, somos remunerados pela doença, mas isso vai mudar”, acredita Paulo Nigro.
“Para atacar a sinistralidade, é preciso mudar a cultura do Brasil, voltando a atenção à pessoa e ao uso inteligente de dados para gerar resultados”, refletiu Gustavo Pinto.
“[Com ESG], há redução efetiva de problemas de saúde. Conseguimos eliminar 80% dos problemas olhando para a prevenção, o que impacta o transporte, o uso de materiais, o consumo de medicamentos, o descarte de produtos…”, disse Nigro.
“Quando colocamos a vida no centro, o ESG sai por tabela. Não existe vida sem responsabilidade social e ambiental. Sem integridade. Precisamos ter isso incorporado no dia a dia, no ‘DNA'”, defendeu ainda Nigro. “Unidos, conseguimos transformar a saúde no Brasil”, finalizou Gustavo Pinto.