Medicina de precisão deve transformar assistência à saúde

19 de outubro de 2022 5 mins. de leitura
Tecnologias digital e genômica ainda enfrentam o desafio de ampliação de acesso para transformar a saúde brasileira

Os desafios para dar acesso às tecnologias digitais e à medicina de precisão foi o principal tema do terceiro dia do Estadão Summit Saúde & Bem-estar 2022, que ocorre de forma on-line e gratuita. Os especialistas debateram os avanços e os caminhos para acelerar as transformações no setor de saúde.

O evento é uma realização do Estadão com o apoio da Rádio Eldorado FM, patrocínio de Afya, Hospital Israelita Albert Einstein, Boehringer Ingelheim, Hospital Sírio-Libanês, Janssen e Thermo Fisher Scientific.

Desafios para transformação digital na Saúde

(Fonte: Estadão Summit Saúde & Bem-estar 2022/Reprodução)
“Coletamos os dados de todo nascimento vivo e de praticamente todos os óbitos no Brasil”, relatou Chiavegatto Filho. (Fonte: Estadão Summit Saúde & Bem-estar 2022/Reprodução)

Nos últimos anos, a legislação avançou para facilitar a transformação digital na Saúde. A regulamentação definitiva da telemedicina aconteceu em 2022, após o uso experimental durante dois anos de pandemia de covid-19. A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) entrou em vigência apenas em 2020, garantindo a privacidade dos pacientes.

A coleta de dados sempre foi uma questão problemática no sistema de saúde”, relatou o professor livre-docente de machine learning em Saúde Alexandre Chiavegatto Filho, da Universidade de São Paulo (USP).

O preenchimento manual do prontuário, por exemplo, gera insatisfação tanto de médicos quanto de pacientes, mas soluções de inteligência artificial (IA) podem “ouvir” a conversa e automatizar esse processo.

A crescente disponibilidade de dados tem um potencial ainda inexplorado. “O Brasil pode fazer ensaios de dados quase únicos no mundo, com soluções, condutas clínicas, novos protocolos e novas tendências”, defendeu o diretor de Marketing e comercial da Pixeon, Iomani Engelmann. Para isso, é necessário criar normas claras para interoperabilidade entre instituições de saúde públicas e privadas, como existe no open bank.

Integração tecnológica na Medicina

Através do Big Data, é possível identificar a piora de um paciente crônico e convocá-lo para o hospital, exemplificou Klajner. (Fonte: Estadão Summit Saúde & Bem-estar 2022/Reprodução)
Por meio do big data, é possível identificar a piora de um paciente crônico e convocá-lo para o hospital, exemplificou Klajner. (Fonte: Estadão Summit Saúde & Bem-estar 2022/Reprodução)

O Hospital Israelita Albert Einstein esteve à frente dos marcos regulatórios e começou a implementar o teleatendimento ainda em 2012. A instituição concentra todo o relacionamento de forma integrada em um aplicativo e conta, inclusive, com uma incubadora de inovação. Essas ações promovem a eficiência e a sustentabilidade da instituição.

“Temos transformado, do ponto de vista digital, aspectos da prática assistencial, como prevenção de evento adverso, e também a jornada do paciente”, relatou Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Isso possibilita um suporte a decisões médicas e precisas, melhorando a assistência.

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Genômica e tratamento individualizado

O primeiro genoma humano demorou 15 anos e custou US$ 15 bilhões para ser sequenciado e hoje é possível mapear os genes com US$ 1 mil, de acordo com comentário de Pereira. (Fonte: Estadão Summit Saúde & Bem-estar 2022/Reprodução)

O sequenciamento genético se tornou mais fácil, possibilitando o mapeamento do genoma de milhares de pessoas. Em 36 horas, é possível conhecer as características genéticas de um indivíduo. No entanto, 80% dos dados de genoma disponíveis no mundo são de populações predominantemente brancas.

“Precisamos incluir as populações de outras ancestralidades a fim de desenvolver a medicina de precisão para toda a população mundial”, avaliou a professora Lygia da Veiga Pereira, do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP. Nesse sentido, um projeto chamado DNA do Brasil pretende mapear as características da população nacional.

A tecnologia para o diagnóstico de condições de saúde e a criação de drogas é um primeiro passo da medicina de precisão, mas é preciso avançar na conduta. “O desenvolvimento de uma estrutura de pesquisa clínica, assistencial e integrada de vários especialistas deve modificar a atenção à saúde”, avaliou o médico-gerente da Dasa Genômica.

Exemplos de medicina de precisão

Os Estados Unidos são um exemplo de políticas públicas robustas para o fomento à medicina de precisão. (Fonte: Estadão Summit Saúde & Bem-estar 2022/Reprodução)
Os Estados Unidos são um exemplo de políticas públicas robustas para o fomento à medicina de precisão. (Fonte: Estadão Summit Saúde & Bem-estar 2022/Reprodução)

A oncologia é quase sinônimo de medicina personalizada”, avaliou a chefe da Divisão de Pesquisa Clínica e Desenvolvimento Tecnológico do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Andreia Melo. Cerca de 40% a 50% dos pacientes com melanoma, por exemplo, têm uma mutação genética que têm uma terapia-alvo aprovada no Brasil.

O Brasil tem bases tecnológica e profissional habilitadas, mas a ampliação do acesso à medicina de precisão depende de vontade política, sobretudo do sistema público de saúde.

“A pandemia foi um bom exemplo de democratização da tecnologia”, considerou o diretor de Soluções Genéticas da Thermo Fisher Scientific na América Latina, Alexandre Rebelatto.

A medicina de precisão pode se tornar uma grande ferramenta de gestão pública de saúde. “Precisamos avançar no desenvolvimento de painel mais customizáveis, tendo em conta as mutações mais relevantes”, frisa Rebelatto. Além disso, é necessário ampliar o conhecimento às evidências científicas.

Fonte: Estadão Summit Saúde & Bem-estar 2022

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